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As birras da mãe

Venturas e desventuras de uma tripeira que rumou a sul. As histórias da filha, da mulher e da mãe.

Se eu não cuidar de mim...

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Hoje assinala-se o Dia do Cuidador, dia em que se presta homenagem a todos os que se dedicam aos que não podem cuidar de si sozinhos, por isso tenho de partilhar convosco uma questão que anda me anda aqui a martelar na cabeça há vários dias...

No decurso de uma formação sobre educação e disciplinas positivas em que participei, juntamente com mais mulheres (quase todas mães), a dada altura alguém afirma que para cuidarmos dos outros temos, em primeiríssima instância, de cuidar de nós. Verdade a que toda a plateia unanimemente anui em acordo (pois claro, se era para ouvir estes chavões e verdades de La Palice mais valia ter ficado a dormir que ando há três anos a dever horas à casa) mas quando questionaram quanto tempo tínhamos dedicado a nós próprias nos últimos 7 dias a sala ficou em silencio, num incómodo silencio... O resto da formação correu muito bem, não fui propriamente descobrir a pólvora mas além de cimentar alguns conceitos e ideias, percebi que felizmente há cada vez mais pessoas preocupadas com a educação das crianças sem recurso aos castigos (físicos ou outros), de forma a respeitar a sua individualidade e essência, sendo que a plateia contava com mães na sua maioria mas também com educadoras de infância e professoras - o que por si só é um sinal que o chip está finalmente a mudar (YEAHHH), mas que há um ponto comum a todas estas cuidadoras - ninguém está a cuidar de si convenientemente!

Quer dizer somos perentórios em afirmar que necessitamos de estar bem, de nos cuidarmos, para tratar bem dos nossos filhos mas depois temos de puxar muito pela cabeça para nos lembrarmos, quando é que tiramos 5 minutinhos para nós próprias - ah e se está a pensar daquela vez que conseguiu ir ao supermercado sozinha, isso não conta porque foi fazer compras para a família, muito embora a si possa ter tido alguma semelhança com uma ida ao spa (been there, done that)!

Pois é, nós que corremos diariamente em contra-relógio entre casa-escolas-trabalho fora de casa- trabalho doméstico- compras para a casa-escolas-tpcs-banhos-jantares-e o diaboquenoscarregue não tiramos tempo, por menor que seja, para nos mimarmos, para cuidarmos da pessoa que somos e que nos trouxe até aqui. E isso é intolerável e impraticável porque se estamos sempre estafadas, cansadas e com os bofes de forra, como podemos cuidar da nossa família sem que pareça um fardo? Bem sei que todas o fazemos por gosto, que ninguém gosta mais dos nossos que nós e que o fazemos com o maior dos amores mas não teríamos outra disponibilidade, outra paciência caso estivéssemos com as baterias carregadas?

Ah e tal mas eu mal tenho tempo para dormir, quanto mais para cuidar de mim? Eu sei, eu sei, também tenho matado a cabeça com isto: como é que eu foi operacionalizar isto de ter um bocadinho para mim 2 ou 3 vezes por semana, mas acho que não é pedir muito, pois não? Tenho de arranjar uma solução! Tenho não, temos! Ou julgam que vos vou abandonar? Nã, nã... Uma por todas e todas por uma!! Vá...Pronto, não é totalmente altruísta isto de vos incluir neste meu plano... É que se tiver testemunhas, não posso desistir, entendem? Funcionaria assim como uma irmandade mas, ao invés de ser a irmandade do anel, seria a irmandade das parolas que precisam desalmadamente de um tempinho para se cuidarem:P  Teríamos todas de assumir o compromisso de, dentro das nossas particularidades, termos uns minutinhos duas ou três vezes por semana, para caminhar, ver montras, ler um livro que gostemos, ir ao ginásio ou qualquer outra coisa que para nós signifique cuidar de nós e que nos aproxime mais de nós mesmas e nos afaste daquela bruaca em que nos transformamos quando a paciência anda esgotada. Quem alinha?

Pensei que se criássemos um grupo (nada muito fancy, poderia ser aqui na página mesmo) para o efeito no qual partilharíamos tanto os esforços que teríamos de fazer no nosso dia-a-dia para criar esse tempo sem culpa ou peso na consciência (que funcionaria como motivação para os outros elementos do grupo), porque sabemos que seremos melhor cuidadoras depois disso, como também que atividades elegemos (para vermos que não é preciso nada muito mirabolante para nos sentirmos melhor), chegando assim a um grau de  comprometimento que não passível de ser descurado. Isto tudo porque sei que isto é muito bonito mas depois vêm as viroses, as reuniões da escola e nós somos as primeiras a ficar para trás...

Então... quem está comigo? Sugestões para o nome do grupo? Alguém arrisca?

(Esta fotografia tem uns dez anos e eu quero muito acreditar que esta moça ainda está dentro desta carapaça abandalhada que praqui anda,bora lá descobrir)