Mulheres de Armas
Tenho a felicidade de ter nascido, crescido e vivido rodeada de Mulheres (reparem na maiúscula) de armas.
Mulheres que tiveram 12 filhos, que viram a vida "roubar-lhes" dois, que carregaram um dos filhos com queimaduras gravíssimas durante tantos quilómetros para chegar ao posto médico mais próximo, que quando lá chegaram e o pousaram, não conseguiram baixar os braços (apenas uma passagem de uma vida dedicada à casa, à lavoura e aos 12 filhos) e que aprenderam a ler (na altura as mulheres não iam à escola porque era um disparate gastar recursos e dinheiro na educação de uma mulher) ao ouvirem os filhos a estudarem na mesa da cozinha enquanto tratavam dos afazeres domésticos.
Mulheres que foram mães e pais, que passaram por pneumonias, apendicites, febres da carraça e toda uma a panóplia de doenças infantis da filha sozinhas, isto tudo antes dos 3 anos, numa cidade onde não tinham familiares próximos. Mulheres que viram os filhos crescerem, desabrocharem e que ficaram ainda mais sós quando eles partiram para outra cidade em busca de um futuro melhor.
Mulheres que viram os filhos e maridos partirem para a guerra, ficando a chorar baixinho e aguardando esperançosamente os seus regressos.
Mulheres que acordam de madrugada, dia após dia, sem folgas ou férias há anos, indo à luta e dando a outra face. Ah e isto tudo sempre com boa disposição e um sorriso na cara.
Mulheres que lutam diariamente para que as diferenças dos filhos não sejam um obstáculo ao seu desenvolvimento e à sua integração numa sociedade que não sabe conviver com as excepções.
No dia de hoje e tendo em conta o seu verdadeiro significado, quero dizer-vos que revejo cada uma dessas Mulheres que acima descrevi na Mulher que se vê obrigada a arrastar os filhos para as compras num final de dia, enquanto eles fazem uma birra descomunal, revejo-as na Mulher que todos os dias faz das "tripas coração" para atender a todas as exigências da gestão doméstica, laboral e familiar. Revejo-as na Mulher que lidera uma família monoparental. Revejo-as na Mulher que cuida do filho doente, à cabeceira de uma cama de hospital, muitas vezes com a certeza que não o trará de volta para casa.
Onde vão estas Mulheres buscar a força? A determinação? Não sei. Talvez à perninha extra do cromossoma...O que sei é que sempre que olho ao meu redor, revejo as Super Mulheres que me criaram, educaram e que muito contribuíram para que fosse quem sou hoje.
Este dia é comemorado com prendinhas simpáticas (flores, chocolates, massagens...) e estes mimos até calham bem, mas a data é muuuuuito mais que isso!
Por isso queria propor-vos um exercício: cada vez que virem uma mulher (que deve ser encarada como uma companheira de luta e não como uma inimiga - as mulheres conseguem ser muito mázinhas umas com as outras...) num momento menos bom (seja a lidar com uma birra do filho, seja porque está com a casa de pantanas, umas raízes de meio metro ou com a pele toda escavacada, qualquer que seja a dificuldade) em vez de a julgarem imediatamente ("o miúdo está a fazer aquilo porque é um mimado,", "isto está do avesso porque ela é uma desarrumada", "olha lá para aquele aspecto, é uma desleixada"...) limitem-se a dar-lhe um abraço apertado. Deixem que essa mulher desabafe e se sinta compreendida (mesmo que não a compreendam assim tão bem naquele momento). Ás vezes, tudo o que uma Mulher precisa é só de um momento de pausa e de um colinho para recuperar o fôlego e começar tudo de novo.
A todas as Mulheres desejo um dia muito feliz, hoje e SEMPRE!