Dia do pai (para quem não o tem)
Porque amanhã é o dia do pai trago-vos um tema muito pessoal para mim.
Os dias comemorativos (dia do pai, dia da mãe, dos avós, etc) são prazenteiros para a maioria da população porque "encaixam nos padrões da normalidade", seja lá o que isso for.
Então e as excepções? Como será o dia do pai para quem, por qualquer que seja o motivo, não o tem presente nesse dia ou não tem pai de todo?
Tirem 2 minutinhos para pensar sobre o que sentirá uma criança que, além de ter de passar vários dias a elaborar um presente para alguém que não existe na sua vida ou que pura e simplesmente não estará lá (e nem venham com a velha máxima que "faz para o avô ou para o tio", porque a criança sabe bem para quem se destina...), ainda tem de fazer o frete de lanchar com os pais dos amiguinhos e alinhar na cantoria ou teatrinho. Conseguem imaginar?
Por motivos que não vêm agora para o caso, sempre fiz parte da minoria que não tinha o pai presente. Nem nesta nem noutras datas, mas no dia do pai a exposição da nossa situação familiar tornava a questão especialmente dolorosa porque normalmente vinha acompanhada das perguntinhas da treta de quem quer tirar nabos da púcara: "onde está o teu pai? Porque não veio? Oh que pena, agora a quem vais dar o teu presente?...".
Sei bem o que significa o dia do pai para quem não o tem por perto. Não pretendo de forma alguma fazer-me de coitadinha, porque as coisas são como são e há pouco que se possa fazer quando um pai, ou uma mãe por exemplo, se demitem do seu papel.
Tive uma infância muuuito feliz e uma mãe EXTRAORDINÁRIA, muito à frente do seu tempo e que foi de facto a MELHOR MÃE que poderia ter tido, mas lamento muito que estes dias comemorativos tenham ficado para sempre marcados como dias tristes porque não "cumpria os requisitos mínimos". Nunca me foi permitido que fizesse um presente adaptado à minha mãe (tinham de ser sempre as gravatas de cartolina ou os poemas para o pai), nem nunca permitiram que fosse a minha mãe a ir à escola nesse dia porque "poderia constranger os outros pais".
A minha mãe conseguiu "solucionar" parte do problema, deixei de ir à escola no dia do pai (tinha falta claro) mas tive de continuar a gramar com a pastilha das gravatas.
Acredito piamente que o que não nos mata, torna-nos mais fortes mas de facto não faz qualquer sentido que nos dias de hoje estas situações ainda ocorram (felizmente não tão acentuadas como há 30 anos atrás) mas há ainda um longo caminho pela frente.
Talvez fruto da evolução dos tempos os educadores/professores estão mais polidos nesta matéria, mais preparados e preocupados com o bem-estar das crianças para que não tenham que se sentir envergonhadas (porque por muito estúpido que vos possa parecer é um pouco isso que se sente, tem-se vergonha de se ser diferente dos outros) ou tristes num dia que deveria ser tudo menos isso.
Além dos casos em que os que progenitores não fazem parte da vida da criança, existem também situações em que os pais quer por motivos profissionais ou de saúde (ou outros), não conseguem estar presentes nas atividades promovidas pelas escolas, às 15 ou 16 horas (que é um horário muito complicado de gerir para a grande maioria dos pais), por isso creio que se se encarassem estes dias como sendo dias de TODA a família, nos quais pudessem participar todos os elementos do agregado familiar porque no fundo todos (mãe, pai, madrasta, padrasto, irmãos, avós, tios,etc) querem comemorar com a criança as datas importantes, talvez a minoria não se sentisse tão solitária e diferente.
Já sei, já sei... Não podemos proteger as crianças de tudo... Têm de aprender a conviver e enfrentar a sua realidade... Mas não será o nosso papel, enquanto adultos, tentar minimizar os estragos que vamos fazendo na vida dos nossos filhos com as nossas escolhas?
É que se há alguém que não tem porra de culpa nenhuma se o pai está a trabalhar, cá ou no estrangeiro, para sustentar a família ou se está simplesmente a borrifar para o seu filho é a criança, não acham?! Então porque tem de ser ela a saber lidar com a sua condição, de forma a que os outros não se sintam constrangidos e confrontados com as diferenças?
Celebremos junto das nossas crianças estas datas de acordo com as nossas realidades familiares sem lugar a vergonhas ou preconceitos. Façamos com que se sintam amadas no seio da sua singularidade, para que a aceitem inteiramente.
A todos os pais, padrastos, tios, avós, filhos, primos e netos desejo um feliz dia do Pai, junto de quem mais amam.