Countdown - Preparar o regresso ao trabalho
Falta precisamente uma semana para regressar ao trabalho, depois de ter passado 5 meses contigo meu amor godinho.
E se por um lado, desculpa-me por isto Mateus mas, já estou a precisar de falar e pensar noutras coisas sem ser em fraldas, leites e sonos (ou falta deles :P), se já estou a precisar de me sentir EU novamente, por outro, e porque já passei por isto com a mana, sei que depois desta página ser virada nada voltará a ser como dantes.
A nossa calma e doce simbiose, que flui tranquilamente ao longo do dia sem pressões de horários e de rotinas (bem, há sempre a revolução ao fim do dia provocada pela chegada da mana mas com isso podemos nós bem, porque gostamos muito dessa confusão nas nossas vidas) jamais tornará a ser assim. A partir de agora vamos ter de encaixar o colo, a mama, o mimo e as brincadeiras na loucura vertiginosa da vida ativa da mãe.
Mas não obstante de todas as dificuldades diárias que as mães sentem quando, depois de uns meses a dedicarem-se aos filhos e à família, têm de regressar ao trabalho e a tudo que isso implica (trânsito, transportes, stress, etc) que todos sabemos que fazem parte desta fase de readaptação ao mundo real, se quisermos chegar aos 6 meses de aleitamento materno exclusivo preconizado pela Organização Mundial de Saúde as mães portuguesas têm ainda de fazer uma ginástica mais que olímpica para o fazer, uma vez que o nosso governo entende que quando as mães regressam ao trabalho é muito simples manter o leite e a sua produção em quantidade suficiente que permita continuar a alimentar a sua cria por mais um ou dois meses. SÓQUENÃO! Acho que não é preciso ser muito inteligente para perceber isto mas também ninguém disse que abunda inteligência no parlamento! Esperteza, há muita, da saloia como convém mas inteligência que era bom, nem vê-la!
Assim, para conseguirmos só iniciar a alimentação complementar apenas aos 6 meses respeitando o desenvolvimento e amadurecimento do teu sistema digestivo, temos de fazer com que te alimentes mesmo antes da mamã sair de casa para enfrentar pelo menos uma hora de pára-arranca e mais uns dez minutos à procura de lugar para estacionar e isto, somado ao tempo do regresso e da jornada de trabalho já com o tempo de amamentação e da pausa para almoço descontados, dá pelo menos 8 horas em que estamos afastados, pelo que se quisermos chegar à meta dos 6 meses temos de fazer uma gestão muito poupadinha do stock que tenho vindo a fazer e nesse sentido quanto mais tarde mamares de manhã menos vezes recorrerás ao leite armazenado, para ver se ele "estica".
Além disso a mãe deve retirar leite no trabalho pelo menos uma vez com dois propósitos: prevenir possíveis complicações como ductos entupidos ou mastites derivadas da diminuição abrupta da procura do leite e a quebra acentuada na produção que coloque em causa a exclusividade até aos 6 meses.
Ora, uma vez que nem todos os locais de trabalho ou profissões permitem estas andanças de andar com a bomba atrás para retirar leite é habitual que a alimentação complementar (AC) - chama-se complementar porque até ao ano de idade o leite, materno ou artificial, é o alimento PRINCIPAL e também por isso até ao ano de vida os bebés são também chamados de lactentes - seja introduzida precocemente aos 4 meses, altura em que a grande maioria das mães retoma o trabalho. Mas não é por isso ser usual (iniciar AC logo aos 4 meses) nos dias que correm que seja o mais correcto. Está mais que provado que o bebé só deve passar aos alimentos sólidos quando estiver preparado - deve sentar-se já razoavelmente e ser capaz de levar os alimentos à boca. Só se respeitarmos os timings do desenvolvimento do bebé podemos proporcionar óptimas condições para que este desenvolva uma boa relação com os alimentos que possam mais tarde prevenir a incidência de distúrbios alimentares. Aos quatro meses o bebé possui ainda o reflexo de extrusão da língua muito marcado (sempre que se coloca lá a colher ele empurra-a com a língua) e isso só demonstra que não está preparado para comer ainda... Mas isso são contas de outro rosário que vos posso falar num outro dia, se entenderem ser oportuno.
Por hoje queria dizer-vos que estou já com uma telha descomunal por ter de me separar do meu pituco (não se nota?!) mas também deixar umas breves dicas (que me são solicitadas muitas vezes enquanto CAM - conselheira de aleitamento materno) de como se deve preparar o regresso ao trabalho, caso se pretenda manter o aleitamento de acordo com a OMS (ah e não caiam no conto do vigário que essas indicações são para países subdesenvolvidos porque estudos recentes apontam que o bebé beneficia de manter só o leite até aos 6 meses mesmo que seja alimentado a leite artificial - se os pediatras portugueses não aproveitam os congressos para reciclar as directrizes é pena, mas só aos 6 meses é que a alimentação complementar deve ser introduzida).
Vamos às dicas:
- Como o leite materno vai sofrendo alterações de acordo com as necessidades nutricionais do bebé, não é aconselhável que se inicie o stock de leite com muita antecedência porque as necessidades nutricionais de um bebé de 2 meses são bem diferentes das de um de 4 ou 5 meses. Desta forma aconselharia iniciar este processo cerca de um mês antes do regresso para não haver muitas divergências nutricionais nem muito stress para recolher a quantidade necessária para garantir a alimentação do bebé em exclusivo;
- Reserve diariamente uma altura tranquila qb para retirar o leite em que saiba que à partida não vá ser interrompida. Deve rondar sempre o mesmo horário para que a produção de leite estabilize e assim ao fim de poucos dias vai ver que por volta desse horário consegue retirar cada vez mais leite com menos esforço.
- Existem variadíssimos tipos de bombas extractoras de leite, manuais ou eléctricas, mas o que deve ter sobretudo em conta é que a extracção do leite é proporcional à libertação de ocitocina (a chamada hormona do amor que faz com que o leite seja produzido e ejectado) por isso veja com cuidado se a máquina não provoca nenhum tipo de dor ou desconforto e se o funil de adapta bem ao seu mamilo para facilitar a recolha e o vácuo. Depois é só estudar que ritual a deixa mais à vontade para o momento propriamente dito: há mulheres que recolhem melhor se colocarem o bebé a mamar de um lado e a máquina do outro, outras bebem uma bebida quente para relaxar, outras lêem um livro, vêem televisão. Descubra o que a põe zen de forma a facilitar a tarefa;
- Depois do leite extraído vá armazenando no congelador por porções que mais ou menos o seu filho consuma de cada vez porque assim diminui a manipulação do leite e sua possível contaminação. Para saber que quantidade o seu filho beberá faça o cálculo de acordo com a fórmula -[ Peso (kg) x 150 ] / número de vezes que mama por dia. Por exemplo se tiver 7 kg e mamar cerca de 8 vezes / dia (3 em 3 horas sensivelmente) 7 x 150 = 1050 /8 =131. Ou seja faça saquinhos de 130 ml e vá congelando (num frigorífico com o congelador à parte - combinado ou arca - pode armazenar cerca de 6 meses, nos outros nunca mais de 3);
- Como há dias em que não conseguirá certamente retirar essa quantidade toda, vá reservando no frigorífico (pode ser até 3 dias) e vá juntando sempre à mesma temperatura até que perfaça a quantidade que precisa (a primeira imagem representa o que retirei no 1º dia e a segunda o que retirei no 3º);
- Antes do regresso ao trabalho, experimente deixar o seu filho com alguém (aproveite e vá ao cinema nem que seja para dormir :)) para que o alimentem com o leite que foi armazenando. Assim pode prevenir o stress do primeiro dia de trabalho sabendo que ele se vai alimentar convenientemente e se houver algum percalço como ele não gostar de um determinado biberão, vão a tempo de experimentar outro até acertarem com aquele que a estrela aprecia.
Prontos, obrigada por me aturarem uma vez mais! Espero que estas dicas sejam úteis e que a birra me passe rápido, mas tenho para mim que se avizinham tempos de acidez e de humor de cão:P
(Caso tenham mais dúvidas relativas à amamentação, não se acanhem. Aproveitem esta CAM à borliu!)