Ainda no rescaldo do dia do pai
Quando escrevi a última publicação, que podem ler aqui, estava muito longe de imaginar o impacto que teria.
Como sempre, foi em tom de desabafo, de confissão, um pouco mais sério que o habitual dada a sensibilidade do tema, mas nunca pensei que tocasse tanto e tantas pessoas.
Primeiro de tudo quero agradecer àqueles que tiraram um bocadinho do seu precioso tempo para partilharem comigo as suas experiências e para demonstrarem ao mundo que crescer sem pai ou mãe (ou canário ou periquito, whatever), não é de todo sinónimo do fim do mundo nem significa que se percam os valores, o equilíbrio emocional (ainda há esperança para mim, portanto :P) e que se seja feliz! Muito feliz!!
Depois devo confessar que fiquei chocada, incrédula e triste com alguns desabafos que recebi. No meio de muitas histórias muito positivas (nem tudo pode ser mau) , verifiquei que ainda há sítios que não estendem o convite aos restantes elementos da família quando não é possível que o pai ou mãe ou periquito (acho que já perceberam a ideia) compareçam. Ou então, que não permitem que o pai e padrasto, por exemplo, possam ir os dois quando, para aquela família é isso que faz sentido. Que isto acontecesse nos anos 80 e que obrigasse uma mãe desesperada a ficar com a miúda (aka eu) em casa nesse dia, já é suficientemente mau, mas nos dias que correm?! Não consigo encontrar explicação... Dizia na publicação que ainda há muito a fazer nesta matéria, mas não fazia ideia que faltasse tanto...
Mas hoje voltei a este assunto, não para bater mais no ceguinho (embora, pelo aquilo que li nas histórias que me foram chegando, ele merece que lhe batam, e muito), mas porque tomei pela primeira vez, através da vossa partilha na primeira pessoa enquanto pais, consciência do que uma situação destas faz ao coração de uma mãe ou de um pai. Pela primeira vez não olhei para este assunto da perspetiva da filha que é obrigada a fazer um presente que não vai ser entregue (ou que se entregava à mãe), mas sim através dos olhos da mãe, da minha mãe.
Até agora via este assunto como sendo um marco na vida da criança e da formação da sua personalidade, sem que nunca antes me tenham ocorrido quais os efeitos que têm na vida dos cuidadores que ficam a amparar estes duros golpes. Falar convosco, que travam esta batalha em sofrimento silencioso para que os vossos filhos não se apercebam de como isso vos faz infelizes, fez-me ver como a minha mãe terá feito das tripas coração para que nunca sentisse como era difícil para si que eu passasse por isto no dia do pai. Ah e se ela soube esconder isto bem, muito bem mesmo! Ela fez-me sempre acreditar que o dia do pai era dos seus preferidos porque tínhamos desculpa para faltar, fazer coisas diferentes e eu nunca desconfiei do pavor que ela tinha que eu percebesse que nesse dia, ela estava num frangalho.
Embora suspeitasse que não deveria ser tarefa fácil, só depois de vos ouvir, de receber o vosso feedback à publicação, me foi possível perceber quão pequenino e apertado fica o coração de um pai ao ver o seu filho a ter de lidar com o preconceito, a solidão e a tristeza destes dias. Tudo isto para o proteger de mais essa preocupação, de mais esse problema.
E é por isso que não poderia deixar de vir aqui novamente, e já que não o posso fazer diretamente à minha mãe, permitam-me que o faça através de vós. Quero dizer-vos que estão a fazer o melhor que podem e sabem para proteger os vossos filhos (netos, sobrinhos, etc) deste tipo de provações. Vocês que todos os dias lutam por um futuro melhor para as vossas crias, fazem tanto, tanto que isso é suficiente para que elas nunca se apercebam em como vos é difícil aplacar a angústia que sentem ao ver os vossos filhotes passarem por isto num dia do pai (mãe, etc). A vocês que nutrem esse amor sem igual e que têm de ultrapassar estes obstáculos infernais, em nome dos vossos filhos, queria agradecer por demonstrarem ao mundo que mesmo nas maiores adversidades o que sobressai sempre é o cuidado, o carinho, a dedicação em detrimento da frustração, angústia e medo (que sei agora é o que vos vai na alma)!
Por tudo isso, aceitem o meu mais sincero e profundo OBRIGADA!
You ROCK!