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As birras da mãe

Venturas e desventuras de uma tripeira que rumou a sul. As histórias da filha, da mulher e da mãe.

A mão que embala o berço governa o mundo

O dia amanhece, não sei se fique feliz por ter sobrevivido a mais uma noite ou  infelicíssima por perceber que mal dormi, entre levantar de duas em duas horas para pôr a mais velha a fazer xixi para não molhar a cama e nos intervalos quando o mais novo pede mama.

Começa a azáfama do acorda, veste, toma o pequeno almoço, sair a voar para eles chegarem à escola e eu ao trabalho a tempo.

Enquanto lá estou, por incrível que pareça, é quando tenho mais sossego... Bem há sempre o trabalho, mas durante umas horas não há birras, choros, ranhos, cocós, remelas... Ou seja, gosto muito de estar afastada deles por umas horas diariamente. Devolve-me a Inês, a pessoa que me trouxe até aqui, percebem? Serei pior mãe por assumir isto?! Gostarei menos dos meus filhos do que as mães que escolhem dedicar-se à maternidade a 100%? Gosto de pensar que não, gosto de pensar que sou apenas uma mãe real, que se aceita nas suas falhas, imperfeições e que precisa de uma vida além das fraldas, do colo e do mimo. 

Ao fim da tarde, depois de um dia atarefado, há o trânsito, a ida ao supermercado para comprar alguma coisa que sempre falta, a recolha das escolas, os banhos, os mimos no sofá ou no chão da sala, o jantar, as histórias para dormir, as lutas contra o sono, nos dias piores, as birras do sono, e mais uma noite em que dormir será como a roleta russa. Amanhece e tudo volta a repetir-se.

Ainda assim fico com lágrimas nos olhos quando percebo que o tempo nos escapa: a mais velha já diz "pescoço" ao invés de "picoço" ou o mais novo que, prestes a fazer um ano, está quase a andar... As fases vão-se sucedendo umas às outras e nós que tanto queríamos que passassem a adormecer sozinhos, damos por nós a suspirar pelos dias em que desesperávamos num quarto às escuras para que o fizessem.

Ser mãe é uma dualidade de sentimentos, tão depressa se está à beira da rotura, dum ataque de nervos por esgotamento dos recursos físicos ou mentais como, num ápice um sorriso, um abraço ou um beijo nos devolve a força e a vontade se sermos mais e melhores por eles, SEMPRE por eles.

Ser mãe transforma-nos numa melhor versão de nós mesmas, ainda que não o vejamos à partida. Ainda que nos carregue de uma culpa sem fim, por não conseguirmos aliviar as cólicas ou as dores do romper dos dentes, por não conseguirmos amamentar ou por gritar quando perdemos a paciência, a maternidade transforma-nos enquanto pessoas e mulheres, numa pessoa melhor, disso não há a menor dúvida.

Mas para sermos melhores, temos de nos aceitar nos defeitos ou qualidades, nos limites e nas falhas como ponto de partida. Não basta querer, tem de se ser e a maternidade força-nos a sê-lo. No fim não interessa se foi leite materno ou em pó, se foi papa caseira ou industrializada, se foi aveia ou milho, no fim só interessa se foi com amor, AMOR daquele sem limites ou barreiras.

A mão que embala o berço governa o mundo. Por isso sejam mais brandas, não a subestimem, nem a culpem NUNCA. Ela faz o melhor que pode, que sabe e todos os dias se supera.