No início da semana, por causa de uma publicação acerca das parvoíces de se ser adolescente, dei por mim a remexer numa caixa tua à procura de fotografias minhas dessa altura. Encontrei umas três, para fazer uma brincadeira nas stories do instagram mas nesse processo vi também algumas cartas que te escrevi, alguns postais, bilhetes com a tua letra, com a minha... Um envelope que me foi entregue pela policia, que presumo que contenha os brincos ou outra peça que estavas a usar na altura e que ainda tive coragem para não abrir...
Assim que a minha mente começou a processar e a registar o que estava a passar, voltei a arrumar a caixa, com tudo que lá estava dentro, como se fosse esse gesto me devolvesse a razão.
Ontem comemorou-se o dia da saudade, mas para mim foi na segunda feira ou então são todos os dias em que me permito ter saudade... Já passaram 8 anos e eu ainda não mexi em nenhuma caixa, nem tampouco as tenho em minha casa... E isto, porque por muito bom que seja rever e reencontrar determinadas fotografias ou objectos, essa alegria rapidamente se transforma na angustia e materialização da tua ausência. E enquanto esse twist acontecer, não vou conscientemente arrumar as tuas coisas. É reviver a tua partida, uma e outra vez... E eu não quero, não quero... Espero que compreendas e que me desculpes por não dar aos teus pertences a dignidade que me merecem, mas pelo menos por agora não sou capaz.
Todas as pessoas sentem saudades, da infância, da juventude, da terra natal e eu, eu tenho saudades tuas, saudades nossas. Tende-se a pensar que o tempo ajuda neste processo mas para mim está a ser cruel, porque à medida que ele passa sinto que me vou esquecendo de alguns pormenores, das tuas mãos, do teu cheiro... Fecho os olhos e a tua imagem aparece cada vez mais desfocada e isso é um murro no estômago...
Assim como voltei a colocar as coisas dentro da caixa e, por sua vez, a caixa no fundo do armário, voltei a arrumar essa gaveta do meu cérebro (ou coração) e a fechá-la, até à próxima vez que ela abrir.
(Nota : como tenho alguma necessidade de exteriorizar alguns demónios sob a forma de escrita, não estranhem se forem aparecendo aqui mais "Cartas para MIM" - já as escrevo há algum tempo, são até anteriores à oficialização do blog. E tratam-se de um duo, já que a minha mãe de chamava Maria Isabel Martins. sendo que assim são cartas para mim e para ela - MIM.)
Talvez seja a pergunta mais recorrente de quem me procura como CAM (conselheira de aleitamento materno).
Por um lado há um profissional de saúde, habitualmente pouco informado (à excepção talvez dos obstetras e pediatras, talvez) do outro há uma bula que diz invariavelmente que "aquele fármaco não foi testado nem em grávidas ou mulheres em aleitamento" e por fim um farmacêutico que tem sempre uma teoria sobre o assunto... e no fim desta linha, há uma mulher à beira de um ataque de nervos sem saber em quem deve acreditar, o que pode ou não tomar para poder amamentar.
Como paciente e mãe que amamenta já me calhou um pouco de tudo... uma cirurgiã que me queria suturar um dedo " a seco" porque não poderia amamentar o meu filho depois de levar uma infiltração com o anestésico local, lidocaína - só a deixei cozer-me, depois de a fazer ligar para o serviço de obstetrícia e tirar as suas dúvidas existenciais- então e as suturas das episiotomias, faziam-se sem lido???
Também já tive um pediatra que me disse que não podia tomar o antibiótico x, prescrito por uma obstetra a propósito de uma mastite, e muito menos amamentar daquela mama... E por fim uma farmacêutico que resolveu questionar uma receita médica para tratar uma amigdalite, porque alegadamente não poderia amamentar... Ah e já me esquecia do técnico de RX que me proibiu de ser eu a segurar na minha filha de 5 meses na altura para ver o estado dos pulmões dela à conta de uma bronquiolite...
O que é que esta gente toda tem em comum? Está mal informada! E desinformam os outros...
Hoje queria dar a conhecer uma associação para a promoção cultural e cientifica da amamentação, a e-lactancia. Aqui encontram reunida toda a informação sobre a compatibilidade devidamente testada e comprovada dos fármacos com a amamentação. Basta fazer a pesquisa no site utilizando o principio ativo do fármaco ou da técnica imagiológica (sim permite ver por exemplo se podemos fazer RXs) a que temos de fazer e ele retorna-nos se é compatível ou não e no caso de não ser, devolve logo outras opções válidas para as mesmas situações médicas - este passo pode ser muito valioso no decorrer de uma consulta, por exemplo, em que o médico prescreve logo o compatível.
Todas as informações clínicas deste site são fidedignas, produto dos devidos testes e pesquisas científicas, pelo que é 100% confiável. Infelizmente, nem todos os profissionais da área da saúde têm conhecimento dele e por isso, por omissão, muitas vezes indicam às mães que têm de suspender a amamentação durante um determinado período o que nem sempre é verdade. De facto, situações há em que não há mesmo volta a dar mas são muuuuuuito menos do que aquelas apregoadas por esse mundo fora... E assim evitam-se o stress materno, as guerras dos biberons e das tetinas que os petizes teimam em não aceitar assim do pé para a mão.
A compatibilidades são demonstradas numa escala de três cores, bem ao jeito de um semáforo indicando se é seguro ou não e fornece dados tão precisos ao nível da farmacocinética obtidos pelos testes permitindo, que até o profissional mais céptico se renda e o passe a utilizar;)
Espero que seja útil e que sirva para minimizar possíveis estragos ou constrangimentos da desinformação.
Nos últimos dias temos assistido a um triste espetáculo.
Terá começado na manhã de domingo, num bairro semi-acabado do Seixal, onde de um lado está a polícia de segurança pública e do outro cidadãos. Uns afirmam ter exercido força para controlar uma situação complicada, outros dizem terem sido agredidos brutalmente. Há imagens que corroboram uma das versões, mas que não demonstra tudo. Não mostra como terão começado os desacatos, a tal briga entre mulheres, a tal festa que durou até de manhã.
Não temos conhecimento de todos os factos, não estávamos lá, não há filmes de todo o processo e, se calhar, nem interessa que haja, mas depressa nos pomos a julgar o que aconteceu com base nas nossas crenças ou estereótipos ou preconceitos, you name it. E isso é muitíssimo perigoso.
De um lado está uma força armada, que visa proteger os cidadãos e que, pelo menos em teoria, apenas se utiliza da força em último caso e até estar controlada a situação. E de outro estão pessoas, familiares umas das outras, agredidas fisicamente até ficarem no chão - confesso que fico sempre um pouco impressionada com as imagens das forças policiais a investirem sobre quem já está no chão, sobretudo se se tratarem de mulheres, mas como acima disse, desconheço o que motivou tal atuação.
O que está aqui a toldar a visão do caso, qualquer que seja o lado da barricada com que se simpatize mais, queiramos ou não, é o facto de isto se ter passado num bairro social e com pessoas, aparentemente desfavorecidas (quaisquer que seja o motivo desse desfavorecimento). Da outra vez em que filmaram um agente a pontapear um homem já no chão, foi após um jogo de futebol, se bem se lembram, houve logo quem dissesse que "quem vai para essas coisas sujeita-se", como se alguém se sujeitasse a levar pancada, já esborrachado no chão sob o olhar atento do próprio filho...
Vão haver sempre casos de abuso da força ou em que esta tem mesmo que ser utilizada para prevenir males maiores... O que importa aqui é aferir exactamente o que se terá passado por forma a por um ponto final no assunto e não deixar escalar mais isto, para ver se Lisboa não vira o Texas, se é que me faço entender...
Convido-vos a que façamos uma "simples" reflexão: seria o nosso julgamento tão rápido e inequívoco se isto se tivesse passado na Lapa ou na Foz? Com brancos? (há que chamar os bois pelos nomes, não há volta a dar lamento!) E por outro lado, por se tratarem de africanos, tem a PSP de ter dois pesos e duas medidas só para não parecerem racistas?! Deve a polícia de segurança pública escusar-se dos seus deveres para não ferir suscetibilidades e acender o rastilho?! É que hoje em dia tem de se lidar com algumas questões com pinças para que não hajam repercussões catastróficas. Parece que sempre que há alguma situação com as chamadas minorias, parte-se logo do princípio que se trata de uma ato xenofobo ou chauvinista. Por outro lado, sempre que aparece uma ovelha tresmalhada, todo o rebanho fica rotulado? Em suma, caso a PSP tenha tido uma intervenção exemplar, não devemos partir do princípio que todos os moradores daquele bairro mereçam ser encarcerados e enviados "para a terra deles" conforme tenho lido nas redes, bem como caso aqueles elementos tenham tido comportamentos desadequados, não se deve estender a toda a classe...
Uma forma muito simples de se olhar para a história e se perceber do que estou a falar é olhar para a absolvição do jogador norte-americano que deu origem a uma série, que nem a propósito, ando a ver - Caso O.J.Simpson .
Assim de forma muito sucinta, o homem matou a ex-mulher (a quem já agredia violentamente com frequência) e o seu namorado, de forma grotesca. Haviam provas de ADN e gravações da chamada que a mesma fez para a linha de emergência naquele dia em que se ouviam as agressões, que o condenariam a prisão perpétua ou até mesmo à pena de morte mas que, como era negro e a polícia de Los Angeles era conhecida por ser racista, se safou de todas as acusações porque a defesa manobrou a lei de forma a que o caso parecesse com uma perseguição racista, tendo colocado em causa a veracidade das provas. O tipo foi absolvido, imaginem porque se misturou o caso com questões raciais... Muito anos depois, se demonstrou não ser o menino do coro que venderam e esteve preso por agressões várias, assaltos à mão armada, chegando mesmo a confessar dos homicídios de que tinha sido ilibado.
Ou seja, devemos ver todos os cenários à luz da igualdade... Não importa que tenha sido no Bairro da Jamaica ou no Príncipe Real, se eram de origem Africana ou Nórdicos, se eram altos ou baixos. O que importa é se agiram correctamente, ou não, de parte a parte. Não vale andarem aqui a bater no ceguinho que somos todos racistas para depois irem incendiar meio mundo. Ou por outro lado, não esperem ter tratamento VIP só para que as forças armadas não podem conter fisicamente um grupo sob pena de parecerem xenófobas. Todos sabemos que há bons e maus profissionais, assim como boas e más pessoas, em TODO o lado. Ponham os filtros sociais de lado e enxerguem as coisas como elas são, e não como querem que as vejamos - seja por imagens captadas por telemóveis ou reportagens encomendadas.
De facto, ao longo dos tempos têm-se cometido inúmeras injustiças para com quem não se encaixa no perfil socialmente estabelecido, mas isso não deve ser utilizado como arma de arremesso sempre que dá nos dá jeito.
Apurem-se os factos e acalmem-se os ânimos, nem tudo o que parece é e se for que se trate implacavelmente para que não se repita no futuro.
Se puderem, vejam a série ou leiam sobre o julgamento do OJ Simpson. Compreenderão que estes casos são de uma complexidade monstruosa e que por vezes, como base na História da humanidade, se cometem as maiores injustiças para que não pareça racismo ou xenofobia.
Professora de geografia, autora de manuais escolares e banda desenhada. Tem 54 anos e está habituada a que olhem com estranheza por causa da sua paixão pelo todo terreno, ainda por cima, ao comando de um camião.
Esta semana fez história, consagrando-se na primeira mulher a ganhar uma prova de todo terreno ao volante de um camião, a Africa Eco Race.
Elisabete Jacinto conta que lhe dá algum gozo que os adversários fiquem especialmente incomodados por ficar atrás de uma mulher e que em tempos chegou a ter problemas porque os mecânicos não a levavam a sério. Refere que o seu percurso neste mundo teria sido mais facilitado caso fosse homem mas lhe dá forças acreditar que pode estar a inspirar outras mulheres a perseguirem os seus sonhos, independentemente das convenções sociais.
Somos educadas para o facto de haver coisas que as meninas não devem fazer porque é "feio" ou simplesmente porque "as meninas não fazem" e depois há exemplos destes, educada por uma geração supostamente mais conservadora do que a que nos educou, rompe com tudo que é esteriótipo e mostra que o céu é o limite.
Aos olhos de muitos deveria estar em casa a corrigir testes, fazer refeições para a família ou a pintar as unhas, e não haveria nenhum mal que se revisse feliz nesse papel, mas preferiu a areia do deserto.
É mulher, portuguesa e, pra mal dos pecados da ministra do Bolsonaro, veste azul!
Toda a mãe conhece aquela descarga de adrenalina resultante de receber uma chamada da escola do filho. É tão comum atendermos o telefone em pânico, palpável do outro lado da linha, que a professora / educadora começa logo por dizer "não se preocupe mãe que não é nada de mais..." (este tratamento por "mãe" também dava pano para mangas mas será explorado noutra altura que não posso esgotar já todas as minhas duas ideias boas :P) A esta altura da chamada já as nossas coronárias deram três mortais encarpados, tivemos trezentas extrassístoles e a pressão arterial teve novo pico histórico (nada comparado com a estreia da Cristina mas vá, qualquer coisa lá muito perto)... Enfim, recebemos uma chamada só para sabermos que, por nos termos esquecido de mandar a caderneta na mochila, há um novo recado na lancheira sobre mais rifas para vender ou termos pela frente mais um trabalhinho manual que a-do-ra-mos (NOT) fazer com material reciclável e que temos de entregar pra ontem (tão boooooom) ...
Está tudo sintonizado nesse nível de aflição, certo?! Agora imaginem vocês que atendiam uma chamada assim:
-"Estou a falar com a mãe do menino Mateus?"
-"Está sim, quem fala?" - não reconheci o nº da escola (tenho já os dois da secretaria e o directo da sala gravados) mas já sinto os tremeliques no olho esquerdo;
-"Olá boa tarde, daqui fala da direcção geral de saúde e é "só" para lhe dizer que a senhora e o seu filho estiveram em contacto com duas pessoas contaminadas com o Sarampo."
A esta altura já eu estava em assistolia (nos filmes representada pelo Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii interrupto), vulgo o meu coraçãozinho, mesmo muito treinado pelos baques da vida resolveu fa-le-cer.
-"Ar.... De..."
Depois de ter dado dois murros pré-cordiais a mim mesma para ver se o bichinho ressuscitava, lá consegui desengasmar-me:
-"Desculpe, mas acho que não percebi bem. Pode repetir sff?"
Então a senhora, que depois se veio a identificar como enfermeira, lá me explicou que quando tínhamos ido ao pediatra por causa da quinquagésima terceira infecção respiratória deste inverno do Mateus, tínhamos estado em contacto com dois casos positivos de sarampo e que teriamos de tomar determinadas precauções tais como ligar logo em caso de qualquer manifestação típica da doença (sem nunca nos dirigir-mos para nenhum lado a menos que nos fosse sugerido isso pela DGS, para evitar mais propagação) ou o Mateus ter de antecipar a segunda dose da vacina (que habitualmente só é administrada aos 5 anos) mas como a primeira só tinha ainda 15 dias (também tinha sofrido atraso por causa das maleitas que o fustigaram - gastroescarlatinaamigdalitedodemo) por isso só ficaria agendada para o inicio do ano.
Comigo não haveria supostamente sarilho porque eu tenho duas doses da vacina, mas com o pequeno era preciso estar mais atento porque, além das suas defesas estarem com certeza diminuídas pelas outras bichezas que o haviam massacrado nos últimos tempos, o grau de imunização da primeira dose também era duvidoso porque não tinha 15 dias...
Escusado será dizer que no decorrer desta conversa, cinematograficamente falando arranquei milhentos cabelos, roí todas as unhas das mãos e pés e ouvi o piiiiiiiiiii pelo menos umas 35987 vezes...
Para juntar ao cocktail, isto tudo foi-me despejado em cima uns quatro dias antes do Natal e dois antes do aniversário do meu marido. Fantástico, né? A malta a preparar os ajuntamentos típicos destas datas e depois leva com uma banhada destas - ah e tal pode ser que tenham sarampo em casa :|
-"Não é ainda necessário que se isolem do resto das pessoas, até porque a quadra não o permite" - Jura?!?!
- "Mas a qualquer sinal, entenda-se pintas, manchas, muitos espirros ou sintomas gripais é para entrar em contacto connosco, está bem?"
- "Errrrr... está bem."
Agora que já passou bastante tempo, que ele já levou a segunda dose e já estamos fora de perigo, quase (eu disse quase) consigo rir disto tudo apesar de achar que até fiquei com o olho esquerdo mais pequeno de tanto espasmo que sofreu... Foram tempos complicados estes de vigiar se o miúdo, que andando na creche está sempre tipicamente doente e ranhoso, espirra mais que o "habitual"...
Mas sabem o que é que não me passou?! A irritação e falta de paciência para quem resolve não vacinar!!! Se andássemos todos vacinados, situações destas eram diminutas e evitáveis, assim como outras com contornos muuuuuito mais dramáticos!! Juro que não me entra na cabeça como podem ser tão irresponsáveis!! Esta minha opinião já tinha sido abordada aqui, a propósito de outro surto desta mesma doença, mas agora tomou outras proporções porque mexeu com o MEU filho, porra!
Quando fomos levar a segunda dose, que acarreta uma sobrecarga enorme ao sistema imunitário do Mateus tendo em conta que foi forçosamente antecipada em 4 anos (imaginem!) e que a anterior só foi há um mês (quase que consigo ouvir os glóbulos brancos dele a dar o tilt), a enfermeira contou-me que uma mulher, mãe de três filhos que nunca foram vacinados por escolha dos pais, apesar de lhe terem sido dado a conhecer todos os argumentos cientificamente válidos para a importância da vacinação por parte dos profissionais de saúde daquele centro, tinha lá ido a correr com os três a propósito deste surto mais recente porque um dos positivos estava na mesma escola do filho do meio, então já fazia sentido que os miúdos fossem vacinados, a tudo! Ou seja, acho que os putos levaram pra cima de um horror de vacinas na mesma altura porque quando a senhora percebeu que a imunidade de grupo, que habitualmente dá boleia à postura desta gente que é contra a vacinação, estava em causa é que acordou prá vida, por assim dizer... Mas o que me dá ganas é que este tipo de episódios vai acontecer cada vez mais porque esta gente acéfala parece multiplicar-se a um ritmo exponencial! Estava preparada para continuar aqui a desqualificar estes paizinhos mas vou-vos poupar a isso, agora que já libertei um bocadinho a tensão - tipo panela de pressão, doyouknowwhatimean?
"Prontos", agora resta-me dizer que achei exímia a atuação da Direcção Geral da Saúde (não se pode só dizer mal, não é?):Estava a par de todos os pormenores, onde teria sido, quem estava, a data da vacina do Mateus, que tinha uma irmã também ela vacinada e também a data... Só me pediram para confirmar a minha vacinação porque como sou vintage (ai de quem me chamar velha, tá?) o meu boletim é dos antigos e ainda não foi informaticamente introduzido em sistema mas colocaram agora as datas das minhas duas doses. Sempre com uma linguagem muito acessível, assertiva e empática (nunca me identifiquei como enfermeira nem senti necessidade disso e quem é profissional de saúde sabe o valor que isso tem). Sim senhora, 5 estrelas! Deixaram-me quase careca, com um olho mais pequeno e com os dedos em sangue com a notícia mas foram irrepreensíveis.
Agora... VA-CI-NEM-SE, PO-RRA!
(nota-se muito que a Nena aprendeu a falar por sí-la-bas:p?)
A escrita sempre foi para mim terapêutica, quase como uma forma de exorcizar os meus demónios, as minhas angústias, mas também expressar as minhas alegrias e conquistas (para que não pensem que é sempre tudo mau :P).
Recentemente, no decurso de um conjunto de atividades e tarefas que me fizeram mergulhar em mim (tenho-me dedicado à área do desenvolvimento pessoal no sentido de me descobrir), foi-me pedido que escrevesse uma carta de agradecimento à pessoa que mais me feriu, àquela pessoa que mais me magoou e que "não quero, em circunstância nenhuma, ver nem pintada".
Li o desafio, reli-o e tornei a ler mas continuava a achar que havia alguma coisa de errado - "como assim carta de agradecimento à pessoa que mais nos magoou?"
Como hoje é o Dia Internacional do Obrigado e porque acredito cada vez mais na importância de sermos gratos por tudo aquilo que nos rodeia, mesmo o menos bom, partilho convosco a carta que redigi ao meu pai. Para os mais desatentos ou para aqueles que chegaram há pouco a este meu cantinho na blogosfera, o meu pai (se é que assim se pode chamar) alienou-se do seu papel quando eu tinha cerca de 6 meses de idade. Depois de se ter separado da minha mãe (que na altura estava desempregada), nunca mais me procurou, nunca mais esteve presente em qualquer momento da minha vida, bom ou mau, nunca participou monetariamente com nada. Em 19 anos (ele morreu quando eu tinha essa idade), nunca senti necessidade de lhe escrever (apesar de nessa altura já escrevinhar algumas coisitas) mas se o tivesse feito calculo que não fosse propriamente para escrever uma carta de agradecimento. Volvidos tantos anos, a morte posterior da minha mãe, ter-me tornado eu própria mãe, quando penso na pessoa que mais me magoou, continua a ser ele o meu alvo...E mesmo assim, procurando no mais intimo do meu ser, consegui escrever-lhe uma carta de agradecimento (se isto não é transformador, não sei que diabo o será):
"Cândido,
Venho agradecer-te por me teres dado a melhor mãe que poderia ter tido, sem ela duvido que me tivesse tornado quem sou hoje mas acredito piamente que sem a tua carga genética (há quem diga que me pareço contigo) também não.
Apesar de te teres alienado permitiste que o resto da tua família que conhecesse e convivesse comigo, talvez não nos moldes das famílias mais tradicionais mas ainda assim devo agradecer-te por isso. Deste-me irmãos, quatro, tios e avós.
O teu pai, foi o único dos meus quatro avós a ver-me na bênção da mãos (cerimónia de final de curso de enfermagem) e quanto orgulho eu e a minha mãe tivemos que ele lá fosse participar, assistir e rejubilar pela formação da neta (penso que teria 94 anos na altura e foi a conduzir para lá - lembro-me dos meus colegas de curso comentarem o quão lúcido e fisicamente bem estava o meu avô para a idade que tinha). Obrigada por isso.
Quero ainda agradecer pela tua ausência, pois sem ela seguramente não me tinha tornado nesta pessoa tão peculiar e desprendida. Não seria a mesma caso não tivesse sido criada por uma mãe solteira na década de 80 com tudo o que isso acarreta ou caso não tivesse enfrentado tantos dias do pai ou festas de Natal sem a tua presença.
Obrigada por teres dado espaço para isto e por permitires que a minha mãe tivesse despertado nela aquela força que me guiou até ao fim dos seus dias.
Se sou como sou, apesar da tua alienação, também a ti o devo, por isso aceita esta carta de agradecimento.
Inês"
Este exercício tão simples mas ao mesmo tempo tão complexo, foi regenerador. Quase como se tivesse uma gaveta muito desarrumada e a Marie Kondo cá tivesse vindo fazer a sua magia. Deitei fora o superficial e os artefactos que só fazem ruído e mantive-me com o essencial.
Quando percecionamos as coisas à distância (que este exercício demanda), mantemos-nos fieis ao que verdadeiramente importa e somos superiores a ressentimentos ou rancores porque compreendemos que isso não nos acrescenta nada, só nos retira.
Desafio-vos a fazerem o mesmo exercício. Mergulhem em vós e encontrem no vosso âmago razões para agradecer a quem mais vos magoou nesta vida. Depois coloquem isso por palavras, por mais frias que vos pareçam, ponham por escrito esses agradecimento. O final, prometo-vos, é transformador!
Muito obrigada por estarem desse lado <3
(se quiserem partilhar comigo o resultado final, terei todo o gosto)