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As birras da mãe

Venturas e desventuras de uma tripeira que rumou a sul. As histórias da filha, da mulher e da mãe.

Não, não obrigo os meus filhos a beijar ninguém, nem que seja o avô!

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Já vos tinha passado, numa publicação anterior, a minha perspectiva sobre o momento em que vivemos e como isso coloca a descoberto a sociedade sexista, abusiva e chauvinista na qual estamos inseridos.

Senão vejamos os ódios inflamados provocados pela temática #metoo, a violação da rapariga de Gaia ou o mesmo pelo caso Mayorna / Ronaldo e que são escarrapachados a céu aberto nas redes sociais e não só!

Na segunda feira o programa prós e contras foi palco de um debate sobre o tema e, a meu ver, muito mal conduzido , a dada altura, pela moderadora e jornalista (papeis que deveriam significar ISENÇÃO e IMPARCIALIDADE) Fátima Campos Ferreira... Ora, um participante da plateia (que por acaso é "só" professor universitário, mas que poderia ser o padeiro, tanto quanto me interessa, mas de quem, a esta altura do campeonato, até se sabe a cor das cuecas, tal não é o escrutínio NOJENTO sobre a sua vida pessoal) refere ser uma violência obrigar as crianças a beijar os avós. Logo aí, surge a primeira reação indignada por parte da moderadora do debate e, começou a avalanche de preconceitos, ideias pré-formatadas e mal concebidas. Meus amigos, a jornalista foi "só" a primeira da manada e o resto foi atrás. O que é uma pena, porque eu até gostava dela mas agora acredito que a imparcialidade é a mesma se estiver lá ela ou a Manuela Moura Guedes ou o Zé Manel Taxista...

Ora, se ela ou as pessoas tivessem dedicado tanto tempo ao assunto como o que foi dedicado a saber qual a marca do champô ou o nº de dioptrias dos óculos do professor, se não andassem a partilhar por esse mundo fora, apenas os 30 segundos em que se proferem as palavras "é uma violência obrigar as crianças a beijar os avós", sem contextualizar porque foi dito, desvirtuando assim o seu significado, se calhar j´s tinham percebido porque é que é que é de facto perigoso obrigar os nosso filhos a dar beijos a alguém.

Ontem, nas stories fiz um vídeo sobre o assunto e o feedback que recebi foi massivo - TODAS as pessoas percebem o que o senhor professor quis dizer depois de lhes ser explicado - como foi feito à frente no programa por especialistas de comportamento humano (psicólogos e psiquiatras) mas o mal já estava feito, ainda não tinha acabado o programa e já se estavam a lançar achas para uma fogueira virtual! Todos disseram que obrigar a criança a desrespeitar o seu corpo e a sua intimidade (dar um beijo a alguém é um ato intimo apesar de ser muito usual na nossa cultura, por exemplo, mas em determinados contextos pode ser muito constrangedor, mesmo para um adulto, agora imaginem uma criança de 1,2, 3 anos...) é desrespeitar o seu não. É como se lhe estivéssemos a dizer:" tu não queres, não te sentes bem com isso, mas como eu sou mais velho e mais forte, obrigo-te; só assim és um bom menino ou boa menina; o avô vai ficar triste...". Ou seja, estamos a transmitir-lhe que para ser bonzinho tem de se desrespeitar e ultrapassar os seu limites... Hoje é com o beijo ao avô, tio, primo, periquito mas amanhã pode ser qualquer outra coisa como dar um primeiro beijo, iniciar a sua vida sexual ou consentir qualquer outra violação do seu corpo... Se nós, enquanto seus cuidadores, não respeitamos o seu não, porque, na sua cabecinha, ela o há-de respeitar?

O que podemos fazer nestas situações é convidar a criança a beijar mas respeitar se não o quiser fazer (se o avô que é adulto e já tem a sua personalidade bem formada, há-de sobreviver sem beijo naquele dia, porque sabe que ele há-de surgir mais à frente na relação dos dois assim como abraços e outros carinhos típicos da relação avô e neto). A criança deve cumprimentar os demais à chegada e à saída mas só o fará com beijinho se sentir vontade disso.

É assim tão difícil de perceber isto? Para quê essa fantuchada toda e esse enxurrilho de insultos??

Vocês acham que uma criança que veja sempre respeitada a sua integridade física ou mental desde sempre, se torna numa criança vitima de bulling sistemático e sem resposta? Acham que se tornam vítimas de abuso sexual e não o reportam? E os que desde tenra idade são obrigados a dar ou receber os beijinhos em situações em que não estão à vontade, consecutivamente, para "serem bons meninos"? Será que mais à frente irão ceder à chantagem do namorado (" se não me deixares fazer isto é porque não gostas de mim")? Custa muito perceber isto, eu sei... Antes de ver esta perspectiva também eu insisti veemente para a Madalena dar um beijinho a A ou B e fiquei a sentir-me conivente com esta sociedade em que para encaixar temos de ultrapassar os nossos limites... 

Por outro lado, não nos podemos esquecer que a OMS indica que quase 90% dos casos de abuso infantil são perpetuados por cuidadores frequentes (avós, tios, treinadores, etc) e para uma criança de tenra idade que seja obrigada a beijar aquela pessoa contra a sua vontade, pode ser um porta aberta para outros abusos posteriores "se a minha mãe quer que eu seja bonzinho com o sicrano tenho de fazer o que ele está a pedir..."

Choca? Claro!! Mas à luz desse raciocínio, que não é meu, nem do professor, mas dos especialistas, faz ou não faz sentido que na educação das nossas crianças está a chave para inverter este ciclo de machismo, chauvinismo e abuso sexual? Faz ou não faz sentido que, ensinar as boas maneiras de cumprimentar os outros e assim cumprir as demandas sociais, não implica obrigar alguém a transpor os seu limites? Num criança pode ser um beijo a um parente, num adolescente pode ser a sua experiência sexual, num adulto pode ser algo intransponível para si como sexo anal ou violência doméstica, por exemplo... Se não respeitarmos  e não ouvirmos "os nossos nãos", como poderemos fazer com que os outros os respeitem?

Por último, queria salientar que o afecto não se compra nem obriga, ele é inacto. Naquele dia ou naquela hora, aquela criança não quis dar um beijinho ao avô (ou tio, padrinho, etc) mas se a relação de ambos for nutrida de forma saudável, ele acabará por surgir e é nisso que temos de nos focar!

Resumindo e baralhando, não, não obrigo os meus filhos a dar beijinhos a ninguém, nem sequer ao avô! Agora, Fátinha podes vir praqui revirar os olhos e "assoprar" a ver se me ralo!! #SHAMEONYOULEADERDAMANADA

 

Relembrando o dia das matriculas

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Estava aqui a fazer-vos um texto todo bonitinho sobre o sítio onde fomos passar o último fim de semana (quem ler assim até pode ficar a pensar que passeamos muito NOT, mas pronto o camandro do pc resolveu atualizar sem eu ter gravado o texto e adivinhem lá.... Escafedeu-se!! Bonito serviço! ARGGGGG!)

Assim, andava eu aqui a esgravatar na pasta dos rascunhos, sim que sou uma gaja muito desorganizada mas tenho uma pasta dos rascunhos, e encontrei esta pérola que é só mais um "dia no parque" mas que poderia ter significado que a Madalena não estivesse agora na escola onde está e que todos, principalmente ela, adoramos. Por isso cá vai:

"O Mateus acordou-me antes do despertador tocar. 

Desde que nasceu a Madalena, nuuuuuunca mais precisei de despertador mas, como a esperança é a última a morrer, continuo a programa-lo religiosamente não vá dar-se o milagre de darumaabébiaàmãe.

Dei mama ao Mateus, levantei-me e depois de uma visita rápida à casa de banho, passei à cozinha para arranjar as nossas (minha e do Mateus) marmitas... Se fosse uma gaja organizada estavam prontas de véspera e talvez o dia não tivesse descambado logo ali mas se há finais de dia em que não consigo raciocinar e mal consigo arrastar-me até à cama por isso era preciso preparar os almoços e os lanches... Abro o frigorífico e dei-me conta que o Tico (um dos meus dois neurónios) não se apercebeu quando serviu a sopa ao jantar que já não havia mais para o garoto levar, por isso são cerca de 6:45 e o Teco grita em plenos pulmões, como que a soar o alarme: TEM DE SE FAZER SOPA, MERDA!! Descasquei e lavei uns legumes à pressa, "botei" e programei a minha melhor amiga e lá a deixei a fazer a sopa do baby enquanto me enfiei debaixo do duche em contra-relógio e toda a minha boa gente ainda dormia (sim que o mister Mateus mamou e rebolou para o lado a ressonar baixinho).

Saio da casa de banho, sem que tenha havido tempo para se formar uma nuvem de fumo, visto-me, acorda o pai, acordo a filha, arranjo a filha (visto, dou pequeno almoço sempre em modo claque: "come Nena. Mais uma colher, Nena. Olha que nos vamos atrasar..."), acordo e arranjo o filho, enquanto o pai vai ver do cão (recorrentemente ainda me sai no plural...). Trituro a sopa, coloco em caixas individuais e ponho de fora da janela rosnando "têm 5 minutos para arrefecer - é bom que se despachem - sabes que deves estar a ficar biruta quando tentas intimidar a sopa para arrefecer ao ritmo que precisas para a poderes mandar na mesma bolsa onde vai a papa e o leite materno. Claro que a sopa cagou em mim e tive de a mandar à parte... Boa!!! Só mais um saquinho para carregar em Sherpa style :D

Saímos os quatro de casa, um pouco antes das 8. Garotos no carro do pai, beijocas a todos ("é de mim ou o Mateus estava quente? Deve ser impressão...") que trabalha perto da escolinha deles, e aí vai ela estrada fora, atrás do prejuízo. Chega às imediações do trabalho mais que a tempo que o trânsito está a gozar os Santos mas tem de dar quinhentas voltinhas para estacionar num sítio que não esteja prendado pelos bilhetinhos da EMEL, a fofi! Carro estacionado, bora calcorrear pouco menos de 1 kilhómetro (como diria o outro). Ufa! Já cá estamos!

Manhã passa à velocidade luz, à hora de almoço , o único momento do dia que tenho só para mim. A bem da verdade, tenho de dividir a hora com a bomba de tirar leite para os lanches do petiz, mas vá... enquanto o faço posso passar os olhos pelas redes sociais e ver quem é que odiamos hoje.

De repente, lembramos-nos de uma tarefa que delegamos no pai, cujo prazo termina precisamente hoje. Hummmm... ele nunca mais disse nada sobre isto.... Estranho... Será que se esqueceu de entregar a matricula na escola pública? Nã.... Ainda na segunda reforcei que estava a acabar o prazo, ele tratou de certeza... O espírito santo de orelha sopra "é melhor confirmar, porque senão só para o ano...."

Claro que.... trrrrrrrrrrrr (rufos do tambor).......se esqueceu! PORRA! "Nunca mais me lembraste..." diz enfiado. Olha que é preciso ter lata, ainda segunda te disse que era melhor ires quinta não fosse faltar alguma coisa. Grrrrrrrr

A hora de almoço que era nossa e da bomba passa a ser da neura também. AHHHHH CA NERVOS....

Pra boss: "Olha, vou ter de sair mais cedo uns 20 minutos porque tenho de entregar a matricula da Nena, que tinha delegado ao meu marido blá blá blá, e a papelada está em casa (ao menos isso)".

Faz-se o que falta e sai-se a correr com os calcanhares a bater no rabo, como diria a minha avózinha, e mais um kilhómetro. ARRANCA pra casa, apanha papeis, corre prá sede de agrupamento e entra-se na secretaria onde 3 pares de olhos nos fulminam. Faltam 7 minutos para fechar... CARAI.... cheguei a horas... Um dos pares de olhos atira um mal disposto de "em que é que posso ajudar? Ótuquedeixastudopraúltima" e eu apeteceu-me dizer, olhe são 3 peitos de frango em bifes, o que é que acha? Mas achei melhor não cutucar a onça... Devolvi um timido "é pra inscrição da pré"... Revira os olhos e diz pramigadolado "tem três anos?! Mais uma que vem gastar papel!" (Juro por tudo que estive pra lhe ir aos fagotes mas depois ela era capaz de não não aceitar a matricula... E nem sequer fiz questão de lhe ir dizer que "afinal, o papel não foi gasto em vão que elaentrouohgordurosa!" Que eu tenho este ar mauzão mas depois não sou capaz de fazer mal a uma mosca :P)

Está a senhora "bem disposta" (que é para não dizer MF - um dia explico-vos o que significa) a verificar se os papéis estão todos e toca o telefone, olho pro visor: é da escola!! Falha-me aquele batimento cardíaco, que falta a todas as mães quando lhes ligam da escola. "Oh mãe, só para dizer que o Mateus está com febre".

AHHHHH só me faltava mais esta hoje, foda-se! FODA-SE!"

Pronto o rascunho acaba aqui, não faço puto de ideia do que aconteceu a seguir porque depois da maternidade e da falta de horas de sono fiquei mais desmemoriada que a Dori mas diria que acabamos o dia em lavagens nasais, nebulizações e birras dos três (da Nena, do Mateus e principalmente minhas).

Pelo menos havia sopa :P já não faltava tudo!!

Fotografia do desenho a minha mini Picasso que está no cabide da salinha <3

(prometo vir falar-vos do spot espetacular para passar uns dias com os putos, mas ao que parece o cosmos ainda não quer que seja hoje =D)

 

 

E a esta Relação do Porto?!

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É de mim ou esta Relação do Porto está pejada de indivíduos obtusos, machistas, proclamadores da Bíblia, retrógrados? Talvez vá um pouco mais longe e diria que está carregada de falsos moralismos, machismo, até chauvinismo! Sou do Porto, nascida e criada, e fico embaraçada com as decisões polémicas tomadas pelo Tribunal da Relação da minha cidade, que quero acreditar que sejam só uma infeliz coincidência, mas que me deixam com vergonha alheia...

Primeiro foi a pena suspensa atribuída ao marido que agrediu a mulher, adúltera, com uma moca com pregos em 2017 em cujo famoso acórdão se lia "alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher..."

E agora o caso da também pena suspensa atribuída aos dois indivíduos, que por estarem inseridos na sociedade (benzosdeus que estão inseridos na sociedade ou o raio que isso quer dizer), não serão imputados de violação à vez da jovem que estava inconsciente, inanimada numa casa de banho pública porque houve clima de "sedução mútua". A APAV já veio a público indicar que a "sedução" exercida pela jovem foi ter dançado, por breves momentos, perto de um dos sujeitos inserido na sociedade, mas parece que para o Tribunal estava a "pedi-las"...

Indica também o acórdão que não houve violência, isto apesar da jovem apresentar inúmeros hematomas... Talvez não haja mais sinais de violência porque a jovem estava inconsciente, incapaz de se defender mas se calhar é preciso mais de dois dedos de testa para perceber isso...

E como se estas decisões não bastassem, dizem as estatísticas que dos condenados por crimes de abuso sexual (vou frisar CONDENADOS, considerados culpados de prática de abuso sexual), apenas 37% cumpre pena efectiva, o resto desta escumalha que, também devem estar inseridos na sociedade, fica soltinho da silva para assombrar a sua vitima e quem a rodeia.

Mas isto não fica por aqui, não...Quando se trata de abuso infantil (leia-se PEDOFILIA), entre 276 condenados por crimes de abuso sexual de crianças,  apenas 79 resultaram em prisão efetiva. MAS QUE PORRA É ESTA, MEUS SENHORES?! Uns tipos "inseridos na sociedade" destroem a vida a uma criança, sua família e safam-se?! Este CHAUVINISMO GROSSEIRO vai muito além de machismo ignóbil, é pior que borrar um pé todo!! É ser conivente com estes animais, caramba!

É por estas e por outras que sou contra o porte de armas porque meus caros, se algo do género me acontecesse a mim ou alguém próximo, vos garanto que só se perderiam as que caíssem no chão, incluindo os digníssimos senhores que os põe em liberdade mediante premissas antiquadas, desapropriadas e chauvinistas!

Podem vir mil acórdãos, juízes, sindicatos de juízes explicar esta MERDA de sistema e decisões que vou continuar sem compreender como não se protegem as vitimas depois de já terem sofrido tanto e se deixam estes seres inqualificáveis à solta.

Podem vir com termos técnicos e afins (como o sindicato dos juízes tentou, esfarrapadamente diga-se de passagem, apoiar os colegas) mas entendam uma coisa, para haver sexo tem de haver consentimento de ambas as partes, não chega que uma queira e a outra, porque está inconsciente ou outra coisa que o valha, não resista, não lute... Por outro lado, mesmo que resista e que lute, como acontece com os números expostos acima, vê o seu agressor ser condenado mas sair em liberdade.

Sinto-me simultaneamente envergonhada, triste e revoltada com toda esta temática porque,  como mulher mas sobretudo como mãe, esperava muuuuito mais do nosso país e da nossa justiça, muito mais!!

(imagem retirada da internet)