Domingo à tarde
Domingo à tarde, bom tempo mas não o suficiente pra ir à praia (bytheway São Pedro já acabavas com esta tanga e mandavas o verão vir em força, que não estamos no País de Gales, tá?) e decidimos levar os miúdos até ao parque. Nós e mais 300 mil pessoas, de modos que aquilo estava a abarrotar de gente.
Já tínhamos andado de baloiço, escorrega e visitado todos os cantos preferidos da Nena no parque e eu, convencida que ou o Paulo ou os meus sogros, estavam de olho nela, estava entretida a ver o Mateus a palrar quando ouço Paulo perguntar: "A Madalena?"
Olho à minha volta rapidamente pra ver onde anda e não a vejo. Olho pro Paulo e volta a perguntar: "viste a Madalena?", "Não, pensei que estava contigo..." Volto a olhar à minha volta e para o escorrega onde ainda há uns segundos atrás e não a vi... Começo a andar às voltas, com o Mateus ao colo, feita barata tonta e nada de de sinal da Nena.
"A senhora deixou cair o chapéu do menino...", diz alguém tocando-me no ombro. "Perdi a minha filha mais velha..." Dizer isto em voz alta e ver a cara do senhor, fez soar o alarme - perdi a minha filha, PORRA! Como é que perdi a minha filha?! Começo aos gritos: MADALENA, MADALEEEEENA!
"O que tinha vestido?" Não me lembro... Porra, pensa, pensa, que raio é que tem vestido?! Torno a olhar à volta, dou mais uns passos e sinto a minha pulsação no pescoço. Onde será que se meteu?! Que raio de mãe és tu que não te lembras o que lhe vestiste de manhã depois de uma birra de proporções Dantescas?! Não vês que estás a perder segundos preciosos no que toca a encontrar a tua filha?! Podem estar a levá-la, sabe-se lá pra onde (não penses nisso, não penses nisso, MERDA...) e tu nem te lembras do que tem vestido?"Ah, tinha um vestido de ganga e um chapéu aos xadrez!"
Olho pra trás e vejo o Paulo com um ar esgazeado (provavelmente como o meu neste momento) a olhar à volta, portanto nada de Madalena por ali também. Cada segundo que passa, vou ficando mais aflita, mais histérica. Chamo a minha sobrinha de 6 anos, "Mariana, viste a prima?", "Não?! Então corre, procura por ela" (pode ser que tenha mais sorte que nós).
Quando estou já a pensar como poderei impedir que saia do parque, que tem 3 entradas / saídas possíveis, ouço "tia, a Madalena está ali!". Olhei na direcção que a minha sobrinha apontava e vi-a a saltitar alegremente rumo à banca dos gelados. Zarpei ao encontro dela sem antes pedir pra ir avisar o tio e os avós que a tinhamos encontrado.
Foram os 2 minutos mais longos e aterradores da minha vida e eu, não sendo gabarolas (porque no que toca a estas coisas ninguém gosta de se gabar), já passei por uns apertos jeitosos. Corri pra ela e abracei-a ainda com o Mateus ao colo, que pareceu perceber pois apertou-a também. Ela talvez pela minha cara ou pelo ímpeto do abraço, começou a chorar. "Não podes sair de perto dos papás sem avisar, filha! Pensava que te tinha perdido!"
Não consigo imaginar qualquer outro desfecho que não este, o de termos encontrado a Nena que apenas se lembrou que queria um gelado. Não consigo mesmo conceber na minha cabeça e no meu espírito outra coisa que não isto. Não sou capaz de transcrever que sentimentos tive durante os breves momentos (mas que para mim pareceram séculos) em que estive sem saber dela, mas posso dizer-vos que são avassaladores.
Todos os dias se contam histórias de crianças desaparecidas, a toda a hora se partilham nas redes sociais apelos de famílias que movem mundos e fundos para encontrar crianças cujo paradeiro se desconhece. Acho que só nesse Domingo à tarde ganhei verdadeira consciência do que poderá ser quando um filho nos desaparece assim, debaixo do nosso nariz, quando estamos todos a aproveitar tempo de qualidade em família.
Neste momento ando a ver uma série sobre isso, na qual a Winona Rider tem um desempenho fenomenal, o da mãe que procura o seu filho desaparecido. O da mãe que põe a sua vida em suspenso porque não acredita noutro desfecho que não encontrar o filho, talvez um pouco à semelhança da mãe do Rui Pedro e de tantas outras que vivem este pesadelo.
Não vos contando pormenores, para não vos "estragar" a série, posso só dizer-vos que só uma mãe / pai desesperados por encontrar um filho podem voltar atrás, pondo em risco a sua própria vida quando, estando já a salvo, se voltam a "enfiar na boca do lobo" só porque desconfiam que só assim poderão perceber para onde foi a criança. E nesse Domingo tive um, felizmente muito breve, vislumbre do que esse desespero pode ser e devo dizer-vos que não há mesmo palavras que fidedignamente traduzam o estado de espírito resultante da perda de um filho nestas circunstâncias.
Partilho convosco uma estratégia simples para diminuir o risco destes episódios. Éramos 4 adultos para 4 crianças sendo que uma estava ao colo. No meio da nossa conversa e da brincadeira das 3 outras crianças estávamos todos a olhar por todas alietoriamente e isso não é muito eficaz. A dada altura podemos estar os quatro a reparar numa e as outras estarem sem supervisão, que foi o que aconteceu...
Regra - cada adulto olha pela sua criança, sempre. E assim garante-se que todas tem supervisão todo o tempo. Se por algum motivo tiverem de interromper a "vigília", avisem os outros. A qualquer altura, por qualquer motivo a criança pode-se lembrar de ir para longe e se perderem o contacto visual com ela, mesmo que por breves instantes como foi o caso, num dia de mais confusão pode ser muito difícil de voltar a localizá-la.
Sendo a Madalena uma menina com apenas 3 anos, utilizar a pulseira Eu estou aqui, também pode ser muito útil em caso de se perder pois facilmente, através dos dados utilizados a quando da subscrição da pulseira, a polícia entra em contacto com os pais. Já pedimos no ano passado e voltamos a pedir. É muito simples, basta entrar no link acima, preencher o pedido e depois ir levantar a pulseira 3 dias úteis depois (até ao 25º dia útil) na esquadra selecionada. O site indica ainda outras dicas importantes, tais como:
- Mantenha um diálogo aberto e apropriado à idade do seu filho;
- Encoraje-o a falar consigo, a contar com quem brincou e a informá-lo antes de ir a algum lado;
- Quando estiverem num lugar público, combinem antecipadamente um sítio fácil de identificar no caso de se perderem. Opte por sinais de “ponto de encontro” se existirem;
- Use roupas vivas e fortes, nomeadamente chapéus, pois são mais fáceis de localizar.
Nos parques, nas praias ou piscinas apinhadas de gente é muito fácil perder uma criança de vista pelo que todo o cuidado é pouco e mil olhos às vezes não são suficientes, por isso deixo-vos este alerta que nunca é de mais relembrar.
Quando era miúda, não me lembro da idade ao certo, perdi-me da minha mãe num supermercado. Naquela altura, uma patinadora (lembram-se "patinadora à caixa central?") foi chamada para ir rapidamente transmitir no microfone que estava uma menina de nome Inês junto da caixa central. Eu estava em pânico porque não sabia da minha mãe e a funcionária estava a tentar distrair-me sem grande sucesso. Quando vejo a minha mãe a andar / correr na minha direcção pensei "ah caramba que é hoje que vais apanhar!". A minha mãe nunca me tinha batido, mas eu temia que esta situação, tendo em conta que vinha com um ar transfigurado, fosse motivo para uma estreia. Só que, em vez disso, abraçou-me a pedir que nunca mais voltasse a repetir a proeza, tal e qual como eu fiz uns trinta e tal anos depois... Mãe sofre, independentemente do credo, cor ou se vive na era das patinadoras ou dos emails ou mensagens de whatsup...