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As birras da mãe

Venturas e desventuras de uma tripeira que rumou a sul. As histórias da filha, da mulher e da mãe.

Deixem a natureza em paz!

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Muito se tem escrito sobre o nascimento real britânico nestes últimos dias. O que mais sobressai é o facto desta mulher enervar qualquer mortal que tenha sido mãe toda desgrenhada, suada e inchada, não é? Ou é só a mim que é que faz comichão este ar de quem veio agora de férias?

Assim à primeira vista estas fotografias da Kate a sair da maternidade como se nada fosse não têm a ver com o título do tema que hoje vos trago, mas tem tuuuuudo a ver.

Este assunto estava na calha há já algum tempo mas por qualquer razão ainda não o tinha escrito (é hoje que sou linchada em praça pública). Talvez por que tivesse algum receio das reações que pudesse suscitar ou porque não se tivesse ouvido falar tanto no assunto como nesta última semana, aqui estou eu preparada para dar o corpo às balas (ou não... mas queselixe sou uma mulher ou um rato?)

Então vamosláber o que uma coisa tem a ver com a outra, Kate aparece assim fresca e fofa porque, além da equipa de cabelos e maquilhagem que a devem arranjar ou não fosse ela a futura rainha de Inglaterra, ter boa genética e cuidadinho com a alimentação, teve um parto normal e natural. E o que é que isto quer dizer? Que pariu (desculpem-me os mais sensíveis mas a expressão "dar à luz" causa-me uma certa brotoeja :P basta verem o cartoon cá da xafarica) por via vaginal e com a menor intervenção médica possível, incluindo sem a bela da epidural. E isto meus senhores, faz toooooda uma diferença!

Digo-vos isto com conhecimento de causa quer por ser profissional de saúde quer por ter tido um parto induzido (por restrição do crescimento intra-uterino) e outro natural e, garanto-vos que depois de ter tido o Mateus estava fresca e fofa também (só me falharam as cabeleireiras e as maquilhadoras :p).

Nos dias de hoje tem-se a tendência de se querer controlar tudo, inclusivamente chega-se ao extremo de controlar o dia e a hora a que a pequenada nasce porque não se gosta de imprevistos nem de incertezas. Às 38 semanas (e às vezes até antes) os garotos recebem ordem despejo - vá, faz-te à vida que já se faz tarde! Induzem-se partos, as dilatações não acontecem porque receber ocitocina pela veia não é a mesma coisa que a produzir e muitas vezes o processo arrasta-se mais de um dia para culminar numa cesariana. Ou então pior, parte-se logo para a biolência e saca-se o puto de cesariana porque nem a mãe quer passar pelo parto (não sabe o que é mas ouviu falar horrores e por isso prefere ao procedimento controlado e indolor, pensa ela, mas depois de passar a anestesia é que são elas) nem o médico quer ter de ir durante a noite ou ao fim de semana "bater com os costados" ao hospital...

E isto é, na minha óptica, muito, muito errado. Primeiro porque a natureza é sábia e salvo raras excepções não é necessário induzir o parto ou fazer a tal cesariana à cabeça e segundo porque o parto é um processo fisiológico e não patológico, por isso deve ser o menos medicalizado possível (com isto quero dizer que se deve interferir o menos possível e só quando necessário). Não pensem que sou daquelas pessoas que defende que os partos devem acontecer em casa ou assim, nada disso. Sou uma mulher da ciência, sou enfermeira e acredito que tanto mãe e bebé estão mais seguros num hospital (ou deveriam estar) onde podem estar monitorizados e receber todo o apoio e ajudas necessárias, mas só e apenas quando for preciso.

Atenção que não sou só eu que acho mas a própria Organização Mundial de Saúde já notificou as entidades portuguesas de que alguma coisa tem de ser feita para travar este crescendo de intervenções nos partos.

Não acredito e também não quero de forma nenhuma dizer que se seja melhor ou pior mãe consoante o tipo de parto que se tem, muito longe disso. Mas sei que a recuperação é muito diferente. Não só o que está estritamente relacionada com a intervenção, por exemplo depois de uma cesariana ou episiotomias (corte do períneo) extensas a mulher fica com bastantes dores e limitações locomotoras que dificultam a exigente tarefa de cuidar de um recém nascido e tudo que isso implica, mas também como ter um bebé prematuro ou imaturo trás frequentemente problemas relacionados com a amamentação e a pressão de aumento de peso.

Por exemplo, vocês sabiam que quanto maior for quantidade de soros que a mãe faça durante o trabalho de parto maior vai ser a perda de peso do bebé nos primeiros dias de vida? Esta perda de peso não é real, claro. O que o bebé vai perder vão ser aqueles líquidos extra que lhe foram administrados através da mãe durante o parto, mas será o suficiente para que o pediatra e enfermeiro, andem atrás daqueles desgraçados com a balança a pressionar para a introdução dos suplementos... Isto já está mais que provado e já toda a minha boa gente da área sabe mas não se ouve falar, porquê? Porque nunca se tem isto em conta na hora de pesar o bebé? Porque é muito raro que uma mulher não seja "encharcada" em soro nates do bebé nascer! No parto do Mateus não houve tempo para nada (um dia destes ganho coragem e conto-vos como foi mas não será hoje), nem um sorinho me puseram e o que aconteceu é que quando o pesaram no dia da alta (2 dias após o parto) ele já tinha aumentado face ao peso do nascimento (quando o "normal" é isso só acontecer ao fim de 10/15 dias). Ficaram todos admirados, mas quando referi que não tinha recebido soro antes do parto (só me puseram depois a ocitocina em curso para facilitar a dequitadura - expulsão da placenta - e prevenir uma complicação grave do puerpério - a atonia do útero) acenaram todos com a cabeça. "Ahhh é tão raro que nem nos lembramos desse pormenor..."

A medicina evolui todos os dias para dar resposta aos problemas de saúde das pessoas, não devendo ser utilizada com leviandade. Portugal é o nono país do mundo com maior número de cesarianas e isso é fruto de dois fenómenos gravíssimos: a ignorância (desculpem mas não há outra forma de o dizer) das famílias que não são devidamente esclarecidas dos riscos que incorrem e a ganância da classe médica e dos hospitais privados que ganham mais pela cesariana do que pelo parto normal. Basta ver que 66% das cesarianas portuguesas são feitas no privado e este número, por si só, explica muita coisa.

É claro que ninguém morre (bem às vezes morre mas nisso ninguém gosta de falar, muito menos a uma grávida ansiosa) por fazer cesariana ou por nascer antes do tempo sem ser preciso e com certeza muitas de vós terão testemunhos exatamente nesse sentido. Porque também há quem morra de parto normal e é só nisso que se focam... Assim como ninguém morre por beber leite em pó ao invés do materno, mas sabendo nós o que é melhor para a saúde da mãe e do filho não deveríamos trabalhar em conjunto para esclarecer devidamente todas as dúvidas que possam existir e que estejam a toldar uma decisão até ela ser devidamente informada e em consciência? Ou vamos simplesmente ficar-nos a invejar a Kate sem querer saber o que está na base daquele ar?

Por favor não entendam esta publicação como uma crítica a quem optou por cesariana mas sim como um desabafo sobre quem "vende" a cesariana como parto 100% inócuo, indolor e sem riscos nem para a mãe nem para  bebé. A minha birra de hoje pretende ser uma reflexão sobre uma questão séria de saúde pública porque quantas mais as cesarianas desnecessárias no privado engordarem as taxas nacionais mais pressão haverá no público para que se evitem e muitas vezes implica trabalhos de parto mais longos e perigosos para quem realmente precisa desta intervenção cirúrgica.

Vá... três, dois, um: let the show begin! (que é como quem diz: que comece o linchamento!)

 

 

Finalmente de volta!

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Estive "fora de circulação" durante muito tempo nestes últimos três anos e meio: foram as gravidezes de risco que me obrigaram a abrandar a velocidade cruzeiro dos meus dias e a repousar tipo cachalote encalhado na areia (aqui a utilização deste animal não é coincidência), depois os pós partos, a privação do sono e os seus pontapés na cabeça que nem sabia se era de noite ou de dia, se era verão ou inverno. O não me encontrar por detrás daquelas olheiras, dos cabelos por pintar, da depilação por fazer, dos quilos que teimam em não ir embora...

Quando pensava que iria finalmente abrandar o ritmo, porque a Nena finalmente passou a dormir um pouco melhor e já não mamava tanto durante a noite CATRAPUZ percebo que já estou grávida outra vez (esta segunda não estava planeada para tão cedo) e que vamos voltar ao ponto de partida. Yeahhhh! Não entendam mal, queríamos muito o Mateus mas um pouco mais tarde para podermos recuperar um bocadinho o fôlego. Ao segundo por um lado já é mais pacífico, já sabemos ao que vamos, já confiamos mais no nosso instinto e no nosso corpo, mas por outro já há um crianço mais velho que é preciso continuar a acarinhar e a amar mesmo que faça uma daquelas birras descomunais porque o mano está a dormir e o quer acordar à força ou mesmo sem motivo nenhum (as maravilhas dos terrible two - mal posso esperar pelos terrible three. NOT!).

Ora, como mulher fui ficando sempre para último plano. Eu sei que não há desculpa e que mulheres há que conseguem sempre manter o foco em si e nas suas prioridades mas eu nem ao ginásio conseguia ir sem pensar que estava a roubar aquele precioso tempo à minha filha. Sempre que me convencia a mim própria a deixá-la mais um bocadinho na escolinha (sim porque ambos têm que ingressar no infectário logo que se acabam as licenças, o que é "só" mais um duro golpe para o coração de uma mãe) para puder ir fazer alguma coisinha por mim abaixo, ficava a sentir-me a pior das mães e o que quer que fosse fazer "sabia-me" mal. Neste aspecto a cabeça dos homens é muito mais descomplicada que a nossa, ou então a minha é que é muuuuuito complicadinha. Enfim, vesti a pele de mãe e não percebi que me estava a anular enquanto mulher.

Mas, felizmente, desta vez a coisa já não se deu exactamente da mesma maneira. Quando subi para a balança no final do ano depressa percebi que aquele ciclo de me colocar em último lugar tinha de acabar. Já era mais que tempo de trazer a Inês de volta à minha vida e de tomar o controle da situação. Contei-vos aqui como voltei ao meu peso habitual e isso foi mais de meio caminho andado para o resto voltar gradualmente. O nosso amor próprio e a nossa auto-estima dependem muito de gostarmos de ver o nosso reflexo no espelho e temos de encontrar alguma forma de o fazer - perder ou ganhar peso consoante a situação (é muito menos frequente mas situações há em que é o baixo peso que não gostamos de ver ao espelho), dar cabo da trunfa cheio de brancos que se tornou o nosso cabelo ou da gaivota que deixamos crescer no meio das nossas sobrancelhas que mais parecemos a Frida... 

É claro que no meio das cólicas, das noite mal dormidas e das birras é muito mais fácil ceder ao cansaço, à gula e ao conforto que um belo prato de massa carregado de molhenga com natas nos trás mas depois há o reflexo no espelho e aquilo que isso representa por isso há que manter a determinação. Penso que o ponto de viragem foi voltar a sentir-me bem nas minhas roupas coisa que não acontecia desde que deixei de fumar há 6 anos atrás, na altura ganhei cerca de 8 quilos e apesar de ter perdido alguns, nunca mais me senti confortável com algumas peças. Voltei a gostar de ir à compras para mim, o que é um perigo acrescido para a carteira pois já não bastava perder-me em roupinhas para os miúdos... Continuo a trazer muito mais para eles do que para mim, como qualquer mãe que se preze, mas voltei a gostar de ver as tendências o que já não acontecia há séculos. 

Neste processo de transformação tive a ajuda preciosa  e fundamental de uma grande amiga. Para terem uma noção de quanto ela é minha amiga, foi "só" uma das minhas duas madrinhas de casamento. A Diana Seguro (coloco sobrenome porque com a minha pontaria, a outra também se chama Diana :p) é ela própria um exemplo de transformação a seguir pois, também ela mãe de duas crias, largou tudo, saiu da sua zona de conforto para correr atrás do sonho de ajudar mulheres a alcançar os seus objectivos. Como life designer e health coach ajuda mulheres que, como eu, não estão bem com a sua pele, a serem mais felizes, a terem uma vida à sua medida e sobretudo mais saudável.

Com o seu empurrão, as suas dicas e receitas consegui transformar a alimentação cá de casa por forma a recuperar a Inês dos bons velhos tempos (e que saudades eu tinha dela) sem me privar das coisas boas da vida. Espero que ela não se importe que esteja pr´aqui a falar dela mas estou tão, mas tão feliz com os resultados que não poderia deixar de partilhar convosco como cheguei até aqui, até porque é basicamente o que toda a gente me pergunta atualmente.

É tao fácil esquecermo-nos de nós quando somos mães. É tão fácil negligenciarmo-nos que por vezes é preciso que alguém nos pegue por um pestano, como diria a minha avó, e nos lembre que faremos os outros mais felizes se também o estivermos. Admiro muito aquelas mulheres que nunca perderam o foco em si próprias mas eu admito que não foi de todo o meu caso - Eu tive de me redescobrir e a Diana foi peça essencial nesse processo.

Claro que o mais importante de tudo é sentirmo-nos bem na nossa pele mas o reconhecimento dos outros ajuda imenso. Ter sido recebida no trabalho em ambiente de "qual é o teu segredo?", "conta-me como consegues" ou "estás cada vez mais bonita!" foi a cereja no topo do bolo, ou não... Talvez tenha de vos confessar que a cereja no topo do bolo foi mesmo sair do carro no outro dia de manhã, quase à porta do trabalho, depois de uma noite em que mal dormi umas 4 horas porque o Mateus estava entupido e acordava de 10 em 10 min engasgado em gosma, e ser recebida com piropos lançados por uma grupeta de homens que estava a conversar no passeio. Isto normalmente levar-me-ia aos arames ao nível "não devem ter mais nada para fazer, seus babões de m&#$%" mas naquela manhã, depois de um longo caminho até aqui e até mim, pensei: "Estou finalmente de volta!"

 

Hora de ponta

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Como sabem (ou devem ter reparado pela falta de atividade aqui na página) na passada segunda feira regressei ao trabalho depois do nascimento do Mateus. 

Oportunamente (leia-se quando tiver tempo para me coçar) farei uma publicação toda catita (ou não, dependendo do espirito) sobre como nos temos organizado cá em casa com a revolução provocada pelo regresso da mãe ao trabalho depois de largos meses em casa e toda a ginástica necessária para manter os pratos todos a girar (imaginando que cada tarefa e cada rotina é um daqueles pratos que os malabaristas giram na ponta de um pau - sorry mas não sei o nome técnico da coisa) e como me tenho sentido com isto tudo mas a publicação de hoje, apesar de estar relacionada com a minha volta ao ativo (como se estivesse estado este tempo todo de perna traçada...), é mais um desabafo que outra coisa.

Hoje venho desatinar com o trânsito da hora de ponta e com o ajuntamento de anormalóides por metro quadrado que isso implica. Para vos ajudar a visualizar a tipologia dos indivíduos de que falo vou agrupando por categorias para facilitar a cena, vamos a isto?

  • os atadinhos - também conhecidos como  domingueiros , são aqueles que parece que não saem à rua desde o tempo dos Afonsinos e que resolveram vir descobrir o caminho terrestre para a Merdaleja bem na hora de maior tráfego e, para azar, na nossa frente. Vão avançando o mais devagar que a inércia automóvel lhes permite e por norma temos muita dificuldade em conseguir livrarmo-nos deles. Apenas arrancam quando a fila já avançou uns 300 metros e já se puseram uns 500 carros à frente. Uma praga que nos bons velhos tempos apenas dava o ar de sua graça no dia santo mas que agora se acha no direito de vir espalhar o terror passivo-agressivo a quem tem horário a cumprir. Um hórrrrrror;
  • os desenrascadinhos das dúzias - aqueles que gostam de ir saltintando de fila em fila consoante o andamento da coisa e que ficam nervosinhos sempre que "apostam no cavalo errado". Vão andando em ziguezague, perfazendo o dobro dos Kms que os demais mortais sem, com isso ,conseguir avançar mais rápido. São também o terror dos motociclistas e parecem desconhecer a existência de uma grande inovação automóvel - o pisca;
  • os ejaculadores precoces (desculpem mas não há outra forma de definir o grupo a seguir) - são aqueles que arrancam a fundo numa rotunda, cruzamento ou semáforo como se estivessem a fugir de um tsunami para se porem à frente dos outros mas, assim que o conseguem, vão-se "abaixo das canetas (daí a denominação) e passam a circular abaixo de zero Kms / hora... Nunca sei se hei-de rogar-lhes pragas ou ter pena pela rapidez com que perdem a forcinha :P;
  • os chico espertos - aqueles que acham que foram dotados de mais um neurónio que todos os outros à face da terra e que habitualmente vão na faixa de rodagem que anda mais até uns cms antes de mudarem abruptamente de direcção (sem recurso a pisca - também devem desconhecê-lo) e de se colocarem à má fila à nossa frente, depois de termos estado longos minutos em pára-arranca nessa faixa, obrigando-nos a travar a fundo para não lhes batermos... A estes tenho um prazer quase que mórbido em os "apertar" e ver o seu ar de superioridade esvair-se do rosto à medida que percebem que a faixa e zebra vão acabar e ou pedem com jeitinho ou vão ter de ir dar uma volta ao bilhar grande. AHAHAHAH! (topem a minha veia psicopata a vir ao de cima);
  • os mal-agradecidos - aqueles a quem facilitamos a vida e por quem atrasamos a marcha ou até paramos para deixar entrar na nossa frente mas, porque devem achar que todos lhes devem e ninguém lhes paga e que não fizemos mais que a nossa obrigação, além de não nos agradecerem nem se dignam a olhar na nossa direcção. Uns fofis! Normalmente fico a remoer-lhes no espírito com esperança que lhes nasça um furúnculo daqueles bem gordos no terceiro olho ou qualquer coisa do género, if you know what i mean (aqui é a minha veia macumbeira a falar mais alto);
  • os criançolas - são aqueles que fazem merda e não limpam. Todas as pessoas fazem asneiras na estrada (quem nunca?) ou porque não sabem ou porque não viram, mas a forma como lidam com isso faz toda a diferença. Há que assumir e ser humilde para saber reconhecer a borrada e pedir desculpa. Estes indivíduos têm a idade mental da minha filha mais velha, fazem a asneira e além de não pedirem desculpa, quando são chamados à atenção ainda fazem birra. Um mimo! Para birras já me chegam as lá de casa, "senhor que não viu que tinha um stop e além de não pedir desculpa ainda se põe a refilar e a fazer gestos rocambolescos";
  • os rotundas por fora - como o próprio nome indica, independentemente da direcção que querem tomar, fazem toda a rotunda por fora sem pisca (mais uns que não sabem o que é) porque têm medo de não conseguir sair a tempo, dificultando a entrada dos restantes automobilistas - são os empatafo#%& do asfalto (também não sei dizer isto de outra forma, perdoem o meu berço nortenho).

Bem acho que me fico por aqui, pois estão aqui os meus ódios de estimação dos ases dos volante mas poderia ficar aqui muito mais tempo a enumerar mais sub-tipos desta espécie de gente com falta de jeito ou sem civismo que se tem vindo a multiplicar exponencialmente ao longo dos tempos e que vem dificultar mais ainda a convivência na hora de ponta. Vou deixar os motards, os ciclistas, os condutores de veículos pesados e os taxistas para outra encarnação, porque já destilei veneno que chegue para esta e porque isso daria um testamento ainda mais longo que o Novo :P

E amanhã já é segunda... Quem, como eu, está mortinho por enfrentar o trânsito cheio de gente com o humor avinagrado de início de mais uma semana de labuta?

 

 

 

A descoberta do século!

 

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É nos dias mais tristes que precisamos que nos façam rir ou, pelo menos, sorrir. E porque temos de voltar a dar aqui a esta chafarica a ligeireza e parvoíce que ela merece, lembrei-me de um episódio de assistolia (paragem) cerebral que ainda hoje, mesmo depois de tanto tempo, me faz rir até me doerem os abdominais e os maxilares. Apesar de ter a certeza que me vou arrepender muuuuito de partilhar este dark secret convosco e for the record negarei tudo em minha defesa, aqui vai:

Quando tive o meu primeiro cão ainda não havia a preocupação de apanhar os cocós. Vá podem-me crucificar já mas lembrem-se que ainda estávamos no outro milénio e nessa altura, desde que a mina fosse largada num jardim pouco frequentado, ninguém se ralava com o assunto. Por isso, quando no espaço de 6 meses me vi a braços com 2 cães para passear, pensei que teria de haver uma solução mais digna de uma lady para apanhar as bombas que iam largando pelo caminho, que isto é tudo muito lindo mas a filha da minha mãe não gostava (nem gosta) de andar de cú para o ar a apanhar a merda porcaria dos outros :P. Vocês não estão a perceber, passear dois cães faz com que se façam mais agachamentos do que numa aula de bumbum brasil - andas 3 passos olhócagalhãofresquinho, mais 2 passos olhócagalhotodooutro, mais 5 e jánãotinhasfeito?, 7 depois mastutambémtensdireitoabis? e vamos mas é já para casa antes que algum se lembre de triplicar a gracinha porque janaãotenhomaissacosprarecolherasprendas! Uma estafa: agacha, apanha, ensaca, levanta, agacha, apanha, ensaca, levanta... Isto duas ou três vezes cada cão, enquanto levamos esticões nas trelas e somos constantemente puxados em direcções opostas  não há cá celulite ou flacidez que resista. Agora pensando bem no assunto acho que deixei passar uma bela oportunidade de negócio, como é que não me lembrei disto antes?!?! Poderia ter tirado o pé da lama, for god sake: "Quer definir o seu glúteo enquanto passeia em campos verdejantes de energia e se deixa envolver pelo amor incondicional de um companheiro de quatro patas? Venha à Reboleira (sim, na altura vivia na Reboleira e também vos poderia contar mil e uma formas de ficar fit "só" por viver naquela bela localidade mas vou deixar isto para outro dia para não vos massacrar :P) passar um tempo agradável com uma estarola qualquer do norte que mal tem tempo para se coçar e ainda foi arranjar este entretém!"...

Já me estou a afastar do cerne da história, quem me conhece sabe que quando começo a falar ninguém aguenta (muitas vezes nem eu própria, confesso. falo que me desunho) e parece que a escrever não é muito melhor... 

Bem, continuando: neste contexto de querer simplificar a minha lide diária com esta problemática de apanhar milhentos cocós e numa das visitas àquela loja sueca que tem tuuudo que uma pessoa possa imaginar para facilitar a nossa vidinha suburbana, encontrei, num daqueles corredores que torce para um lado e depois torce para o outro obrigando-nos a passar por uma carrada de coisas que não precisamos pra nada mas que trazemos só por pode vir a dar jeito (ou serei a única a "emprenhar pelos olhos" com estas cenas?), numa dessas voltas um expositor carregado de objectos que trariam "A" resolução para todos os meus problemas! Era uma solução tão, mas tão perfeita que até tive aquele haaaaaaa moment (sabem aquele momento em que parece que vem uma luz do céu iluminar uma determinada coisa e ouvimos um haaaaa celestial?! Pronto, foi o que eu tive assim que os meus olhos bateram naquele amontoado de pázinhas para o cocó), mal podia esperar para mostrar ao Paulo (na altura só namorado - nem sei como depois desta proeza, ainda teve coragem para se casar comigo. Há que lhe dar mérito por isso :P) a minha tão brilhante e inovadora descoberta! 

Desta forma e assim que cheguei a casa exultante por ter descoberto a pólvora, saquei do artigo (que até se vendia aos pares - por isso é que aquela loja sueca é um sucesso - como é um artigo que se pode sujar ou danificar com facilidade, vendem logo aos pares para simplificar a vida dos consumidores) e contei a minha proeza ao Paulo toda orgulhosa de mim mas a reação que obtive não foi, nem de perto nem de longe, a esperada. Em vez de se desfazer em mil obrigadospornãoterdeagarraremmaiscagalhõesdochão e de me beijar os pés, começou a rir primeiro timidamente mas depois de confirmar as minhas intenções para com os artigos que exibia tão orgulhosamente não se conseguiu controlar e partiu para a violência - agarrou-se à barriga e caiu redondinho no chão a rir às gargalhadas. A dada altura estava histérico de tanto rir, já chorava e não conseguia parar. Estava até quase roxo por não conseguir respirar. Estive para intervir mas como estava visivelmente a gozar com a minha cara achei que talvez essa morte até fosse muito branda... Quanto mais eu perguntava porque se estava a rir das minhas pázinhas para o cocó (desconhecia o nome técnico da coisa e como na loja sueca os artigos têm sempre nomes muito estrambólicos, decidi batizar carinhosamente os artigos que prometiam revolucionar os passeios cá de casa de "pázinhas para o cocó"), mais ele ria, chorava e rebolava, ria, chorava, rebolava com os cães doidos à sua volta. Todos três, histéricos a gozar com moi méme e a  minha pessoa quase a explodir de irritação por aquela afronta bem no meio do hall da entrada: "Então anda uma gaja a puxar pelos dois neurónios para encontrar uma solução para luta diária de merda (desculpem mas esta vou deixar passar porque é mesmo disto que se trata), e ainda gozam comigo?!"

Depois de uma boa meia hora de regabofe o Paulo lá conseguiu reunir as últimas forcinhas que lhe restavam de tanto se descascar a rir e tão ofegante como um fumador que acaba de correr a maratona, lá teve a decência de me explicar o seu comportamento atroz: é que segundo ele aquilo servia para tudo menos para aquele fim que eu previa. Ainda dei uma de sabichona magoada e tentei refutar a sua teoria mas assim que fui ao computador e digitei a palavra que ele não parava de repetir fiquei a sentir-me a pessoa mais BURRA à face da terra.

A minha primeira reacção foi nãããããaãã, no way. Como é que eu não percebi isto antes?!?! Que andavam a fazer os meus dois neurónios bem na hora em que encontrei os objectos que até hoje me fazem duvidar da minha sanidade mental e da minha inteligência?!?  Eu juro que estava muito convicta da minha descoberta até googlar a cena, tão convicta que estava disposta a apostar um rim e tudo. Só vendo mesmo: uma parola convencida que tinha descoberto a penincilina e acaba destronada pelo mister google e sua mania em esfregar na cara das pessoas que estão redondamente enganadas (normalmente uso para mostrar ao Paulo que palavras como estroncar ou aloquete existem - mesmo depois de 10 anos ainda o vou surpreendendo com palavras e expressões "novas" - mas nesse caso o meu amigo google virou-se contra mim, traidor...). Então não é que o Paulo tinha razão em se escangalhar a rir? Então não é que me juntei a ele e ficamos mais meia hora a rir à bandeiras despregadas?! Ainda hoje estou para perceber que corrente de ar passou pela minha cabecinha para me ter lembrado daquilo...

Nos dias de hoje, no nosso grupo de amigos, com os quais o Paulo (sacana, não podia ter guardado para ele este assunto) teve a generosidade  de partilhar este meu momento de pequena (GRANDE) fraqueza intelectual que humilha até a pessoa de QI mais elevado (o que claramente não é o meu caso), sempre que se fala em acéfalos há inevitavelmente referência às minhas pázinhas para o cocó - está no TOP da acefalia...

Vou-me arrepender taaaaanto de partilhar isto... Tanto, tanto... Mas parece que vos tenho deixado tristinhos com as últimas publicações e vocês merecem chorar  sim, mas a rir! Por isso se estão curiosos sobre de que par de objectos  estamos falar que foram por mim cafundidos por pázinhas para cocó , que será invocado sempre que eu ousar gozar com alguém (é tão rebuscado que duvido que alguém tenha adivinhado) e se querem ter um trunfo na manga que me calará assim só nas próximas 4000 encarnações (devo ser masoquista mesmo por vos dar sarna para me coçar) eu dou uma ajudinha (ouvem-se os rufos do tambor trrrrrrrrrrrrrr). Xaran:

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Biscuit

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Tenho a mania que sou casca grossa, que não me deixo afectar facilmente, que a minha carapaça me protege sempre e que não deixa que a tristeza se entranhe e se propague.Tenho puta da mania de racionalizar tudo para que seja simples retirar sempre um lado positivo de cada tombo, de cada bate-cu que a vida tanto gosta de me proporcionar e que isso me vai deixando imune ao desgosto.

O dia de hoje foi terrível, muito mais difícil do que alguma vez poderia supor mãe e, como sempre, quando tenho um dia assim é para ti que escrevo.

Lembro-me perfeitamente da tua reacção quando abriste a porta de casa para me deixares entrar com a mala das férias e um cachorrinho que tinha um pouco menos de um palmo te passou por debaixo das pernas. Tínhamos acabado de perder o cão que cresceu comigo e eu achei que seria boa ideia "substituí-lo" para que não te sentisses tão só - já te bastava teres "perdido" a tua filha para um trabalho a 300 kms de distância, não precisavas de ficar sem cãopanhia. 

"Eu não quero mais cão nenhum...", "sofre-se muito quando eles morrem", "depois é a prisão de ter de passear, dar de comer, não poder ausentar-me..." Disseste de tudo um pouco e deixaste bem claro que o cachorrinho que tinha comprado a uns criadores lá para os lados da Estefânia (ainda hoje estou para perceber como foi que sem GPS ou google maps - na altura ainda não havia dessas modernices - fui lá dar direitinha sem conhecer nada do centro de Lisboa) não era bem vindo. Sim mãe, comprei o cão. Pronto já confessei. Saiu-me um grande peso de cima! Eu sei que te disse que me tinha sido oferecido por uma senhora da clínica que estava aflita para despachar os cachorrinhos, ouviu dizer que o nosso tinha morrido e que me pressionou para to trazer, mas a verdade é que o comprei... Desculpa ter-te mentido mas se tivesse dito a verdade o meu plano nunca teria funcionado... Espero que me perdoes.

A ideia era levar o cão durante as minhas duas semanas de férias e esperar que vocês se entendessem durante o tempo que eu estaria fora. Caso isso não acontecesse estava bem tramada, o que ia fazer com um cachorro de 2 meses e a trabalhar 16 horas por dia? Mas isso não ia acontecer, porque se tu me conhecias bem, eu não te ficava nada atrás e por isso a psicologia invertida entrou em acção: "pois eu também disse à senhora que tu não ias querer", "vou já ligar-lhe a dizer que o vou devolver mas agora só no fim das férias e tens de me fazer o favor de ficar com ele enquanto for para Palma, pode ser?".

A coisa ficou assim acordada e sempre que te ligava para contar da viagem ouvia "o cão é muito esperto, anda sempre atrás de mim, devias ver é tão fofo" e eu mantinha o plano traçado à risca "não te afeiçoes muito ao cão, depois ficas triste quando o levar de volta"... Correu de feição e quando cheguei o Biscuit já tinha nome e um lar. Fomos ao veterinário tratar das vacinas, do chip e tive que disfarçar muito bem para que não desconfiasses de nada porque fiquei roxa quando disseram que não era puro... Mas tu ripostaste logo: "além disso não ser o importante, a cavalo dado não se olha ao dente"!  Ah se tu sonhasses...

Estavam os dados lançados para uma história brutal de amizade e lealdade que durou até ao último dos teus dias. Claro que na altura estávamos muito longe de imaginar que 5 anos volvidos te perdêssemos sem aviso, assim sem dó nem piedade. Ainda o deixei ao cuidado de uma das tuas vizinhas enquanto eu resolvia todas as questões burocráticas de quem assim do pé para a mão perde o chão e fica com uma casa para cuidar a 300 Kms de distância, que se prontificou logo para o acolher mas quando lhe fui agradecer e o vi debaixo de uma cadeira, infelicíssimo, de onde saltou a correr assim que ouviu a minha voz, não fui capaz de "abandonar" aquele que tão prontamente cumpriu a missãoque lhe encomendei de te fazer a companhia que eu não podia. Não, aquele que tantas alegrias te deu tinha de vir comigo, porque de uma maneira talvez um pouco retorcida trazia com ele um pouco de ti. Não dizem que os cães são os espelhos dos donos? O Biscuit sempre me fez lembrar-te muito não apenas por ter sido o teu cão mas porque tinha o teu enorme coração e a tua resiliência.

A adaptação à nossa realidade não foi nada fácil: estava habituado a ter-te sempre por perto e nós nunca estávamos em casa, estava habituado a ser o rei do pedaço e teve de aturar um cachorro endiabrado com 6 meses que tinha a mania que era o dominante e o pior: sentia muito a tua falta... Não comia nada, só fazia asneiras, vê lá tu que chegou a subir para cima da mesa da sala e mijar bem no centro! Um mimo! Estava revoltado com a vida e eu confesso que até foi uma boa terapia para mim - quanto mais ele se rebelava, mais eu "me via ao espelho" e tentava acalmar os ânimos para ver se ninguém me atirava ao rio, que a dada altura era o que me apetecia fazer-lhe...

Esforçámos-nos muito para compensar a tua ausência e com o passar dos tempos e o lamber das feridas, conseguimos contrariar a tristeza. Quero muito acreditar que viveu feliz connosco, porque nós sem dúvida que ficamos mais ricos por o ter tido ao nosso lado!

Mas o caralho dos anos foram fazendo os seus estragos: primeiro veio a cegueira (já há muito que estava mais pitosga que o Mr. Magoo, de tal forma que já não podíamos mudar um móvel do sítio que era vê-lo às turras valentes e a tombar! Com crianças em casa nem sempre é possível controlar possíveis obstáculos ao cegueta), depois a dificuldade em subir para cima de alguma coisa (ultimamente até o degrau para entrar em casa lhe é difícil transpor e tu sabes como ele gostava de ir para o sofá), a incontinência agora já total (valha-nos o terraço) e ainda um processo qualquer oncológico que o tem feito emagrecer estupidamente de tal forma que quando lhe dei banho na semana passada me fartei de chorar de tão magro que estava apesar de continuar a comer lindamente... Tem sido internado várias vezes nos últimos dois anos por pancreatites agudas que lhe causa uma disenteria tal que ao fim de poucos minutos já é só sangue, mas o cabrão recupera sempre! Vou sempre a voar com ele para o veterinário, entra quase morto, dão-me sempre muito pouca esperança de sobrevivência porque um cão daquele tamanho não pode sobreviver àquele quadro... Começam a dar-lhe  antibióticos, protectores gástricos e soro e puf, finta a morte outra vez. A veterinária nem queria acreditar da última vez que recorremos ao internamento, porque da vez anterior (cerca de 6 meses antes) tinha-me informado que havia algum cancro que lhe estava a sugar a comida que ingeria (uma vez que nunca perdeu o apetite) mas que não valeria a pena investigar porque dada a idade do cão e o estado geral ele não iria aguentar o tratamento, portanto que me preparasse que faltaria muito pouco para o perder... Tá beeeeeeem... É tão teimoso como tu que se recusa a entregar os pontos e a mim tinha-me sido muuuuuito mais fácil que ele cedesse, PORRA!

Calma mãe que aparentemente ele não estava a sofrer (caso estivesse, tanto eu como ela teríamos abordado logo o tema), continuava a andar, a comer como se não houvesse amanhã e não chorava por isso acordamos que ainda não tinha chegado o momento. Mas o caso mudou de figura esta semana e eu finalmente arranjei forças para lhe dar um último banho, ao qual já pouco ou nada reagiu (e tu sabes como ele odiava a água e o secador), embrulhá-lo na toalha e levá-lo comigo para que encontrasse a paz que eu sabia que já não tinha aqui.

Armei-me em tesa e fiz tudo sozinha sem nunca pensar que me fosse custar tanto. Vá lá que, à última da hora, tive a feliz ideia de pedir aos meus sogros que ficassem com o Mateus caso contrário não sei como teria sido.

Ficou no meu colo o tempo todo, a lamber-me as mãos como se percebesse o que iria acontecer, na altura H ainda hesitei mas depois pensei que te iria encontrar e a dúvida desapareceu imediatamente. Deram-lhe um sedativo para que não sentisse nada e depressa a sua respiração passou a ser mais espaçada e profunda. A veterinária sugeriu que saísse mas não fui capaz de o deixar sozinho. Segurei-o até ele se deixar ir calmamente e um pouco mais que isso até. No fundo sabia que o que estava a fazer era devolver-lhe a dignidade que há algum tempo lhe fugia, mas CARAMBA foi muito duro despedir-me dele e do poucoxinho que ainda me restava de ti... Parece parvo, mas para mim ainda existias nele e agora já nem isso me resta! Sei que cuidarás bem dele e ele bem de ti. E, hoje, só isso me consola: do meu colo para o teu. Aquele colinho que só tu sabes dar.

 P.S.- Desculpa-me não ter fotos vossas, mas acredites ou não, ainda me falta coragem para abrir o caixote das fotografias. Esse e todos os outros que continuam selados na garagem da tia desde que partiste...

 

 

 

 

 

Countdown - Preparar o regresso ao trabalho

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Falta precisamente uma semana para regressar ao trabalho, depois de ter passado 5 meses contigo meu amor godinho.

E se por um lado, desculpa-me por isto Mateus mas, já estou a precisar de falar e pensar noutras coisas sem ser em fraldas, leites e sonos (ou falta deles :P), se já estou a precisar de me sentir EU novamente, por outro, e porque já passei por isto com a mana, sei que depois desta página ser virada nada voltará a ser como dantes.

A nossa calma e doce simbiose, que flui tranquilamente ao longo do dia sem pressões de horários e de rotinas (bem, há sempre a revolução ao fim do dia provocada pela chegada da mana mas com isso podemos nós bem, porque gostamos muito dessa confusão nas nossas vidas) jamais tornará a ser assim. A partir de agora vamos ter de encaixar o colo, a mama, o mimo e as brincadeiras na loucura vertiginosa da vida ativa da mãe.

Mas não obstante de todas as dificuldades diárias que as mães sentem quando, depois de uns meses a dedicarem-se aos filhos e à família, têm de regressar ao trabalho e a tudo que isso implica (trânsito, transportes, stress, etc) que todos sabemos que fazem parte desta fase de readaptação ao mundo real, se quisermos chegar aos 6 meses de aleitamento materno exclusivo preconizado pela Organização Mundial de Saúde as mães portuguesas têm ainda de fazer uma ginástica mais que olímpica para o fazer, uma vez que o nosso governo entende que quando as mães regressam ao trabalho é muito simples manter o leite e a sua produção em quantidade suficiente que permita continuar a alimentar a sua cria por mais um ou dois meses.  SÓQUENÃO! Acho que não é preciso ser muito inteligente para perceber isto mas também ninguém disse que abunda inteligência no parlamento! Esperteza, há muita, da saloia como convém mas inteligência que era bom, nem vê-la!

Assim, para conseguirmos só iniciar a alimentação complementar apenas aos 6 meses respeitando o desenvolvimento e amadurecimento do teu sistema digestivo, temos de fazer com que te alimentes mesmo antes da mamã sair de casa para enfrentar pelo menos uma hora de pára-arranca e mais uns dez minutos à procura de lugar para estacionar e isto, somado ao tempo do regresso e da jornada de trabalho já com o tempo de amamentação e da pausa para  almoço descontados, dá pelo menos 8 horas em que estamos afastados, pelo que se quisermos chegar à meta dos 6 meses temos de fazer uma gestão muito poupadinha do stock que tenho vindo a fazer e nesse sentido quanto mais tarde mamares de manhã menos vezes recorrerás ao leite armazenado, para ver se ele "estica".

Além disso a mãe deve retirar leite no trabalho pelo menos uma vez com dois propósitos: prevenir possíveis complicações como ductos entupidos ou mastites derivadas da diminuição abrupta da procura do leite e a quebra acentuada na produção que coloque em causa a exclusividade até aos 6 meses.

Ora, uma vez que nem todos os locais de trabalho ou profissões permitem estas andanças de andar com a bomba atrás para retirar leite é habitual que a alimentação complementar (AC) - chama-se complementar porque até ao ano de idade o leite, materno ou artificial, é o alimento PRINCIPAL e também por isso até ao ano de vida os bebés são também chamados de lactentes - seja introduzida precocemente aos 4 meses, altura em que a grande maioria das mães retoma o trabalho. Mas não é por isso ser usual (iniciar AC logo aos 4 meses) nos dias que correm que seja o mais correcto. Está mais que provado que o bebé só deve passar aos alimentos sólidos quando estiver preparado - deve sentar-se já razoavelmente e ser capaz de levar os alimentos à boca. Só se respeitarmos os timings do desenvolvimento do bebé podemos proporcionar óptimas condições para que este desenvolva uma boa relação com os alimentos que possam mais tarde prevenir a incidência de distúrbios alimentares. Aos quatro meses o bebé possui ainda o reflexo de extrusão da língua muito marcado (sempre que se coloca lá a colher ele empurra-a com a língua) e isso só demonstra que não está preparado para comer ainda... Mas isso são contas de outro rosário que vos posso falar num outro dia, se entenderem ser oportuno.

Por hoje queria dizer-vos que estou já com uma telha descomunal por ter de me separar do meu pituco  (não se nota?!) mas também deixar umas breves dicas (que me são solicitadas muitas vezes enquanto CAM - conselheira de aleitamento materno) de como se deve preparar o regresso ao trabalho, caso se pretenda manter o aleitamento de acordo com a OMS (ah e não caiam no conto do vigário que essas indicações são para países subdesenvolvidos porque estudos recentes apontam que o bebé beneficia de manter só o leite até aos 6 meses mesmo que seja alimentado a leite artificial - se os pediatras portugueses não aproveitam os congressos para reciclar as directrizes é pena, mas só aos 6 meses é que a alimentação complementar deve ser introduzida). 

Vamos às dicas:

  • Como o leite materno vai sofrendo alterações de acordo com as necessidades nutricionais do bebé, não é aconselhável que se inicie o stock de leite com muita antecedência porque as necessidades nutricionais de um bebé de 2 meses são bem diferentes das de um de 4 ou 5 meses. Desta forma aconselharia iniciar este processo cerca de um mês antes do regresso para não haver muitas divergências nutricionais nem muito stress  para recolher a quantidade necessária para garantir a alimentação do bebé em exclusivo;
  • Reserve diariamente uma altura tranquila qb para retirar o leite em que saiba que à partida não vá ser interrompida. Deve rondar sempre o mesmo horário para que a produção de leite estabilize e assim ao fim de poucos dias vai ver que por volta desse horário consegue retirar cada vez mais leite com menos esforço.
  • Existem variadíssimos tipos de bombas extractoras de leite, manuais ou eléctricas, mas o que deve ter sobretudo em conta é que a extracção do leite é proporcional à libertação de ocitocina (a chamada hormona do amor que faz com que o leite seja produzido e ejectado) por isso veja com  cuidado se a máquina não provoca nenhum tipo de dor ou desconforto e se o funil de adapta bem ao seu mamilo para facilitar a recolha e o vácuo. Depois é só estudar que ritual a deixa mais à vontade para o momento propriamente dito: há mulheres que recolhem melhor se colocarem o bebé a mamar de um lado e a máquina do outro, outras bebem uma bebida quente para relaxar, outras lêem um livro, vêem televisão. Descubra o que a põe zen de forma a facilitar a tarefa;
  • Depois do leite extraído vá armazenando no congelador por porções que mais ou menos o seu filho consuma de cada vez porque assim diminui a manipulação do leite e sua possível contaminação. Para saber que quantidade o seu filho beberá faça o cálculo de acordo com a fórmula -[ Peso (kg) x 150 ] / número de vezes que mama por dia. Por exemplo se tiver 7 kg e mamar cerca de 8 vezes / dia (3 em 3 horas sensivelmente) 7 x 150 = 1050 /8 =131. Ou seja faça saquinhos de 130 ml e vá congelando (num frigorífico com o congelador à parte - combinado ou arca - pode armazenar cerca de 6 meses, nos outros nunca mais de 3);
  • Como há dias em que não conseguirá certamente retirar essa quantidade toda, vá reservando no frigorífico (pode ser até 3 dias) e vá juntando sempre à mesma temperatura até que perfaça a quantidade que precisa (a primeira imagem representa o que retirei no 1º dia e a segunda o que retirei no 3º);
  • Antes do regresso ao trabalho, experimente deixar o seu filho com alguém (aproveite e vá ao cinema nem que seja para dormir :)) para que o alimentem com o leite que foi armazenando. Assim pode prevenir o stress do primeiro dia de trabalho sabendo que ele se vai alimentar convenientemente e se houver algum percalço como ele não gostar de um determinado biberão, vão a tempo de experimentar outro até acertarem com aquele que a estrela aprecia.

Prontos, obrigada por me aturarem uma vez mais! Espero que estas dicas sejam úteis e que a birra me passe rápido, mas tenho para mim que se avizinham tempos de acidez e de humor de cão:P

(Caso tenham mais dúvidas relativas à amamentação, não se acanhem. Aproveitem esta CAM à borliu!)

Caixas de supermercado!

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Calma, calma... O assunto que hoje vos trago não é a lei da prioridade que isso era muito fácil (ou não, tendo em conta que numa fila de supermercado TODA a minha gente sofre de cegueira selectiva momentânea e deixa de conseguir enxergar uma barriga de 9 meses ou um carrinho de bebé a menos de um palmo de distância - faz-me lembrar os meus tempos áureos de transportes públicos pois sempre que se vislumbrava uma grávida ou alguém de canadianas era vê-los cair que nem tordos mais pareciam que tinham sido desligados no interruptor - ora estão ON na converseta ou a ler o belo do livro, ora entra alguém a quem poderão ter de ceder o lugar e ficam automaticamente OFF a babar contra o vidro da janela - é certinho comó destino).

Nas filas do super isso não acontece porque não dava jeitinho nenhum, imaginem lá  ora estão ON a pôr as comprinhas no tapete, ora vêm uma criancinha de meses aos berros, a chorar que se desunha e ficam OFF - é que cair redondinho no chão (como eu via acontecer a quem estava com o rabo alapado nos lugares de cedência de prioridade) deve doer que safarta por isso não ficam OFF ficam só mais ceguetas que uma toupeira e mesmo se lhes atropelarem os calcanhares com o carrinho, os moços não vêm nada...

Não, hoje o assunto não é esse (até poderia ser mas depois de duas gravidezes nos 3 últimos anos, durante os quais usufrui praí umas 2 vezes da prioridade e uma delas foi no mesmíssimo dia em que o Mateus nasceu, ainda tinha de ouvir que levamos os nossos filhos com menos de 2 anos ou pior levamos as nossas barrigas para o supermercado só para poder passar à frente de gente muito atarefada e apressada para ir ver o Goucha ou a Fátima numa televisão que até já dá para puxar atrás a programação, e eu não estou para aí virada). Eu juro por tudo que tentei as duas coisas, deixar tanto a barriga como os gaiatos em casa sozinhos mas eles não colaboraram... Podia sempre pedir à criada para passar ela a ir fazer as compras ao super... Ah.. Espera... Isso ela (aka eu) já faz...

Hoje, polémicas das prioridades à parte, queria saber se sou a única pessoa que tem tremores e até suores frios de cada vez que se aproxima de uma caixa de supermercado. Há por aí mais alguém comámim?! Que fica logo com um tique nervoso só de pensar no circo que é pôr as compras no tapete e conseguir recolhê-las em segurança no final? Please, estou muito precisada de não me sentir só!

Primeiro temos de pedir comlicencinha aos senhores da frente e de trás para conseguir pôr as coisas no tapete - invariavelmente a pessoa da nossa frente tem as compras super espalhadas, de tal forma que 5 artigos ocupam 3 metros e quando finalmente temos um espacinho para colocar as nossas coisas, assim com jeitinho e em pirâmide para não incomodar as do vizinho da frente que vivem à larga, eis que o vizinho de trás, que já vem vindo a soprar há mais de um quarto de hora, bem na nossa nuca não vá nos ter passado despercebido o seu mau humor pela carantonha cerrada que exibe desde o momento em que teve de abrandar o passo de corrida em direcção à caixa quando percebeu que estávamos acompanhadas de um pequeno ser de 3 meses, resolve despejar o conteúdo da sua cesta bem no sítio onde estávamos a pensar por o nosso papel higiénico. Temos de olhar de frente para aquelas trombas de metro e meio que metem medo ao susto e com a melhor da nossa boa vontade (às vezes é preciso ir ao fuuuuuundo do nosso ser para conseguir encontrar) e balbuciar baixinho pra não ferir susceptibilidades, "o senhor importa-se, ainda tenho coisas aqui no carrinho para por cá em cima"... (Sopro profundo juntamente com um revirar de olhos monumental) "Ah... não vi..." ("desculpe" que era bom para a tosse nem vê-lo) - cá está novamente a cegueira selectiva.

Dou por mim muitas vezes, inconscientemente, com o resto das coisas nas mãos para entregar directamente ao funcionário só para não me soprarem mais, que depois de por o papel higiénico ainda faltam os rolos de cozinha e já lá está outra cena qualquer alheia no lugar disponível...

Agora que chegou a nossa vez, poderíamos pensar que a coisa iria melhorar, não era? Estamos quase, quase a livrar-nos do sopro no cucuruto, sóqueacoisanãomelhora! Agora que entregamos os artigos que trazíamos nas mãos, vemos esses e os restantes serem arremessados à traição bem para o fundo do tapete, tão rápido que enquanto colocamos um dentro de um saco já se acumulam uns dez cá fora. Parece que recebemos uma ordem de despejo e, assim sem dó nem piedade, vemos a nossa pobre alface ser lançada em voo, juntamente com as latas de atum, com o detergente da loiça e os limões. Zás, zás, zás, pim, pim,pim, por pouco não apanhava com o pacote da manteiga na testa mas isso não interessa nada, o que interessa é que livram destes molengões dos clientes em menos de um fósforo. Fico sempre a pensar que devo ser muito lerda por não conseguir acompanhar o ritmo do pessoal que está nas caixas. Apesar da minha experiência profissional ser em bloco operatório, onde tudo é para ontem - em contexto de urgência então é para anteontem - fico a anos luz daquela gente que atira os frascos do champô e do gel de banho como se estivessem a queimar e nos põe na rua enquanto o diabo esfrega um olho. Ainda estamos a lutar para conseguir encaixar as compras no saco já estão "contribuinte na fatura?", "pode dizer", "cartão cliente", "cupões"... Estou habituadíssima a ser multitasking mas CARAMBA, há limites até para uma mãe! Não é preciso que nos ajudem a por as compras no saco, nem tão pouco embrulhá-las em papelo de celofane, mas bolas dá para desacelerar um bocadito a coisa?

Agora mais a sério e sem qualquer desconsideração pelos operadores de caixa, que basicamente vão fazendo o melhor que podem e sabem mas que não podem ignorar as directrizes de quem lhes paga o ordenado. Bem sei que esta ligeireza em nos ver pelas costas tem como principal propósito agilizar o serviço e descongestionar as lojas, mas CREDO há alguma necessidade de tratar os clientes, que diga-se de passagem, estão a pagar, e bem, pelos seus artigos, como se de leprosos se tratassem? A mim, este comportamento instituído pelas direcções dos grandes supermercados, além de me deixar os nervos em franja, parece-me que roça a falta de civismo e de respeito por quem lá vai depositar uma boa fatia do rendimento familiar. É como se dissessem "vá, despacha-te lá com essas MERDAS que tenho mais que fazer do que estar aqui a olhar pra tua fronha!", "deixa cá o pilim mas vai pregar pra outra freguesia, vite vite".

Curiosamente os supermercados em que nos sentimos mais "pressionados a abandonar a cena",chamemos-lhe assim, também são aqueles em que não há ainda caixas self-service, o que me deixa a pensar se aqueles funcionários que já lutam para que o seu posto de trabalho não seja substituído por uma máquina estarão mais sensibilizados para que o cliente tenha de ser tratado com mais cuidado... Garanto que se nessas cadeias houvesse essa opção, eu cá nunca mais me sujeitaria a que me despejassem com metade do supermercado em cima!

Calhando, sou eu que estou mais sensível, mas serei a única a sentir-me assim?!

 

Dia mundial da consciencialização do autismo

dia mundial da consiencialização do autismo (1).

 

Não poderia deixar de assinalar este dia de consciencialização, no qual decorrem iniciativas por esse mundo fora com o objectivo de sensibilizar as pessoas para o Autismo.

Assim de uma forma muito simplista, o autismo é uma perturbação do desenvolvimento social que se manifesta de variadíssimas formas. De acordo com o individuo, a sua idade e as competências que foi adquirindo ao longo da sua vida, pode apresentar os mais diversos sintomas comportamentais, sendo que atualmente a sua caracterização clínica é feita com base nestes três domínios:

- restrição da comunicação (verbal e não verbal);

- perturbações da interação social recíproca;

- reportório restrito de interesses e comportamentos.

Esta diversidade de apresentações do autismo dificulta muitas vezes o diagnóstico precoce que possibilite, desde cedo, uma intervenção psicopedagógica e que promova uma melhor adaptação das crianças e dos adultos à vida em sociedade, de forma a que estas pessoas  não sofram descriminação e que sejam respeitadas na sua individualidade.

Por isso hoje, mais que nunca, no dia em que os monumentos se iluminarão de azul, nós que nos fartamos de ouvir  "ainda não se senta?", "a sério que ainda não fala? com essa idade o meu filho já recitava os Lusíadas, a dar mortais encarpados de costas", e toda uma panóplia de comparações parvas acerca dos timings de desenvolvimento de uma criança, sejamos solidários para com as famílias que não só têm de se adaptar à forma peculiar que o seu membro tem de se relacionar e vivenciar o mundo, como ainda têm de enfrentar uma sociedade que não sabe conviver com a diferença.

Como nota final, queria deixar apenas duas palavras para aqueles que entendem que ser autista é ser, de alguma forma, inferior - Bill Gates.