A poucos dias do final do ano, a educadora da Madalena alertou-nos para o facto dela estar a mostrar interesse em acompanhar alguns coleguinhas da sala, um pouco mais velhos e que já tinham iniciado o desfralde, nas excursões à casa de banho.
Fiquei surpresa porque ainda não tinha detectado nela qualquer sinal de desfralde e sempre achei, sem nunca ter lido nada sobre o tema antes, que deveria partir daí. Mas com um bebé com pouco mais de 1 mês em casa e o raciocínio de quem leva vários pontapés na cabeça por dia, parti do princípio que me tivesse escapado (mas que bela mãe que eu sou, hã? Nem percebi que ela estava pronta para deixar as fraldas... comodestruiramoraldumamaeem3tempos)
Lá fui eu a correr comprar cuecas e mais cuecas do Frozen (que é grande paixão da bichinha), um livro sobre o tema para ler ao deitar para ver se ela se entusiasmava e outro livro para ver se eu me inteirava do modus operandi da coisa e se me entusiasmava também (gostamos muito que os nossos filhos cresçam e a ideia de poupar pelo menos nas fraldas de um era aliciante, mas depois parece que deixam de ser os nossos bebés...). Os livros eram bastante elucidativos e traziam uns quadros de conquistas para se irem colando uns crominhos giros de mini cocós e xixis, sempre que os ditos eram largados no pouso certo. Redutor de sanita e pote (mais conhecido por bacio nestas bandas) tínhamos herdado da minha afilhada e portanto estavam reunidas as condições físicas e teóricas para a operação desfralde.
Fodido tramado foi passar à prática: as condições climatéricas (secar muita roupa em pouco tempo em Janeiro foi "só" mais um pontapé na cabeça), as capacidades psicomotoras da mãe (que andava com uma lapinha de um mês agrafada às mamas e que depois de dormir umas 5 horas na totalidade e sem serem seguidas, tinha os reflexos de uma múmia paralítica) e da filha de dois anos e meio (com a mesma destreza de um carapau para se despir, subir para a sanita e voltar a vestir) que gostava muito de sair e acompanhar os amiguinhos até à casa de banho, mas largar lá as bombas estava de gesso:\
Íamos levando a Nena à casa de banho de x em x tempo e fazíamos sempre uma festarola quando acertava no alvo. Ele foi dança do xixi, ele foi dança do Cocó, eu sei lá... Cantávamos para o Sr. Xixi e e o Sr. Cocó se sentirem bem vindos, explicamos que os puns eram o Sr Cocó a dizer que queria sair, com direito a simulação sonora dessa conversa imaginária e tudo...Valeu TUDO para incentivar a garota a entregar os seus pertences à sanita. Fizemos com cada figurinha que é uma sorte continuarmos à solta - é que já vi gente a ser internada na psiquiatria por menos :P
Nunca, nunca houve repreensão, mesmo quando logo depois de passarmos meia hora na casa de banho sem festejos se ouvia "Mamã, a Elsa está triste." Pois não haveria o raio da boneca estampada nas cuecas de estar triste, se tivesse acabado de ser visitada pelo Sr. Cocó assim à má fila também estaria...Toca a limpar, trocar tudo e dar-lhe banhoca outra vez... E isto tudo com aquele ar de quem não parte um prato "Não fiques triste Neninha, para a próxima vais conseguir guardar o Sr. Cocó até à sanita" quando o que me apetecia era praguejar e muito, à moda da minha terra #f&%!!#"%&#....
Numa fase inicial os presentes raramente, muuuuuuito raramente, chegavam a bom porto... E isso representava muita trampinha fora do sítio. Vinha da escola com 4 ou 5 mudas de roupa para lavar (chegaram-me a ligar a dizer que já não tinham mais roupa e lá ia eu de escantilhão, com a lapa a tiracolo, em marcha de emergência pra garota não andar de rabo ao léu) e depois os acidentes continuavam cá em casa até à hora de ir para a cama. Com os ataques das cólicas do irmão à mistura, eram assim uns finais de dia de cortar os pulsos.
Lava, estende, apanha, põe no saco da escola, tira do saco da escola, lava, estende, apanha... Isto em pleno mês de Janeiro no qual estavam uns 8 graus ao sol! Onde é que eu tinha a cabeça para me ter metido nesta alhada a esta altura do campeonato? Ah... Estava a levar pontapés das hormonas, da privação do sono e das birras porque omanonasceuegostomuitodelemasjamepegavasaocoloumbocadinho...
Mas, ao fim de algum tempo (talvez um mês, um looooongo e tortuoso mês), os acidentes começaram a diminuir gradualmente e a desgraçada da máquina de lavar roupa pôde finalmente ter uma folga. Passou a acertar no alvo e agora os acidentes são extremamente raros (uh-uhhhhhhh) e normalmente estão relacionados com excesso de brincadeira.
O desfralde noturno ficará pendente até que a dama comece a apresentar a fralda seca de manhã, o que acontece uns dois ou três dias seguidos, para depois vir outra vez encharcada. Está em standby até novos desenvolvimentos.
Estou para aqui a queixar-me mas tendo em conta que tinha tido de lidar com o nascimento do irmão há um mês e isso é unanimemente relacionado com regressão dos comportamentos, acho que o desfralde até foi rápido. Pena não ter sido indolor (que o digam as minhas mãozinhas enregeladas de tanto esfregar, estender e apanhar a roupinha durante as tempestades de A a Z) nem inodoro (houve uma altura em que jogava forte e feio no Euromilhões, afinal no teatro desejar muito daquilo que eu andava a limpar é desejar boa sorte :P).
E por aí? Como correu ou está a correr o desfralde? Alguma alma caridosa solidária comigo?
Como tripeira que emigrou para a capital (ficaram a pensar que emigrar aqui está mal aplicado, confessem... Mas não está e eu explico: o Porto é uma nação, logo se se sai da nação, emigra-se :P) acho que deveria partilhar convosco algumas dicas de como sobreviver na terra dos mouros (ah se eu soubesse o que sei hoje tinha evitado tantas figurinhas tristes...):
1 - Faça-se difícil. Numa primeira abordagem, não diga mais de 3 ou 4 palavras seguidas para não desatarem a fugir a 7 pés. É que esta gente desconfia de uma pessoa muito simpática logo à partida, ficam logo a achar que lhes estamos a tentar impingir alguma coisa ou que os vamos degolar aí numa mata qualquer. Os alfacinhas são gente muito simpática mas que para se dar a conhecer requer algum namoro. É preciso flirtar com eles, estão a ver a coisa? Não partam logo pra violência que os assustam:P;
2 - Ainda na onda do ponto anterior, nunca olhe os seus vizinhos nos olhos por mais que 2 cagagésimos de segundo pois correm o risco de terem a P.J. à perna por assédio, perseguição ou tentativa de extorsão caso tenha a infeliz ideia de ir bater à porta a pedir uma cebola ou um pouco de sal. Se se cruzarem com alguém nas escadas do prédio, arranjem maneira de impedir o contacto visual nem que para isso tenha de saltar pela janela ou para o poço do elevador. Talvez ao fim de uns 20 anos possa dizer um olá (tímido) e de 40 pedir um raminho de salsa;
3 - Conduza sempre com a mão na gaita (cá diz-se buzina)! Por cá apita-se por tudo e por nada. O sinal muda para verde, apita-se. O sinal passa a vermelho apita-se. Pessoa muda de faixa de rodagem, apita-se. Pessoa entra na rotunda, apita-se. Pessoa sai da rotunda, apita-se. Por isso se quiser conduzir sem dar nas vistas aqui na capital tenho dois conselhos: prepare-se para as travadelas a fundo na faixa da esquerda da segunda circular e agarre-se à gaita. Não há que enganar;
4 - Se for almoçar ou jantar fora faça um favor a si mesmo e leve uma buchazinha. É que aqui paga-se muito por uma dose mínima, tão pequena que mal dá para a covinha de um dente. A malta vem habituada às doses que dão para alimentar meio continente Africano e depois resente-se. Vá por mim, convidam-no para um jantar, vá aviado de casa com um farnel;
5 - Traga sempre consigo um caderninho para apontar as palavras novas que for aprendendo: eles é ténis para calçado, refogado para estrugido, bica para café (deixem lá o cimbalino em paz que isso já não se usa desde o tempo da Maria Cachucha), cabide para cruzeta... Se, como eu for profissional de saúde, tenha em mente que por alguma razão estranha uma ampola aqui é uma fórmula (esta ainda hoje estou para perceber de onde veio) e uma pesquisa de glicémia capilar é um BM test. Acho que já percebeu que esse caderninho será o seu melhor amigo para se entrosar e lhe poupar meia hora de converseta sempre que pedir um fino ao balcão, que isto de ser simpático por se ser do norte é uma coisa mas levar com os saudosismos de meia Lisboa é outra completamente diferente: "Ahhh já fui tão feliz no norte", "a mulher da minha vida era de lá", "lá é que se come bem", blá, blá, blá, tira lá esse fino que ainda morro à sede;
6 - Quer ir à praia? Não desespere que tem três belíssimas opções. Oraportantos se não quiser variar muito ao nível da nebulosidade e da temperatura da água pode ir para as praias da linha de Sintra: não faltam lá nuvens e água que enrijece as carnes que é uma maravilha. Se quiser sentar-se na pontinha da toalha, ter de encolher os presuntos para não pisar o vizinho de baixo e ver com mais pormenor do que o desejava a pilosidade da vizinha do lado, a sua praia de eleição fica na linha de cascais. o mááááximo. Se apesar de tudo preferir uma praia com areal farto, onde pode estender a sua toalhita da moda 3 por 3, água um pouco mais quente onde pode mergulhar sem dar uma traulitada numa rocha ou ouriço, não há que enganar: a sua praia de eleição fica na margem sul do Tejo. Agora é só gramar com 2 horas de pára-arranca, para cada lado, a levar com apitadelas fartas e largar a nota na portagem quedizqueserveparaamanutençaodapontesoquenao;
7 - Se um grupo de amigos o convidar para uns copos no bairro alto não cometa os mesmos 2 erros que eu cometi da primeira vez que lá fui. Primeiro não vá montado no salto agulha (além de me doer o joanete até hoje, ainda estou para perceber como não bati com os costados no chão de tanta entorse no paralelo) e depois não se ponha a beber cerveja à vontadinha que não há onde urinar. Estão a imaginar uma gaja simpática demais, de salto agulha no bairro alto, a bater à porta de gente, que não é sua vizinha, e ainda por cima ter a distinta lata para pedir para urinar na sanita lá de casa?! Acho que ainda hoje tenho o telemóvel sob escuta...
Depois de umas larachas e de uns temas mais sérios, parece que chegou a hora de fazermos as devidas apresentações. Se há coisa que aprendi aqui por estas bandas é que não podemos ser logo "muito dados", pois corremos o risco de sermos considerados fáceis, psicopatas, serial killers ou algo que o valha.
Por cá as pessoas "dão-se" mais devagarinho, mais timidamente (mas só no princípio que depois "jaaasus" não há quem as aguente:P) e quando aparece uma mulher do norte a ser logo muito simpática ou a contar a vidinha toda, a malta fica logo de pé a trás.
Por isso, aproveitando o facto da Ana Rocha ter sido uma querida e ter desempenhado a difícil tarefa de nos colocar sob forma de um bonito desenho (bem mais fofo que os espécimes originais, by the way) que possibilitou o embonecamento do blog, bamosláber quem é esta gente e o que faz da vida.
Ora então aqui a je nasceu na extinta freguesia de Cedofeita (carago!) e viveu na Invicta até terminar o curso de enfermagem.
Na altura, com 22 anos e porque a classe apresentava já excedentes a norte, decidi vir para Lisboa. Cá ainda havia muita procura de enfermeiros e davam boas oportunidades a quem não tinha experiência. Tenho cá familia, que me acolheu (nunca haverão palavras ou formas suficientes de demonstrar a minha gratidão para com eles) e isso facilitou muito a coisa - caso contrário duvido que a minha mãe galinha tivesse alinhado nesta aventura.
A ideia original era vir ganhar alguma experiência, uns trocos e sair da casca claro, para depois regressar à minha terra, às minhas origens e ao meu mundo.
Amo o Porto de paixão e será sempre a minha casa - é lá que me sinto completa. Não sei explicar de outra forma, talvez só quem tenha passado por isto de emigrar/migrar consiga compreender como é possível viver noutra cidade ou país, construir lá um lar, uma família e ser feliz (muito feliz), mas sentir que se regressa a casa sempre que voltamos à nossa terra e aos cantos da nossa infância (wiiiiirdow).
Mas as coisas quase nunca correm como planeamos, não é verdade? Já dizia o outro que a vida é o que acontece enquanto fazemos planos... Cada vez que ia a alguma entrevista de trabalho lá cima, tudo o que me era proposto parecia uma anedota comparando com o que me era proporcionado por cá (vencimento, horário, serviço...), o tempo foi passando e eu aprendi a amar esta gente que calça ténis ao invés de sapatilhas, veste collants ao invés de meias-calças e por aí fora. Entretanto, porque nem tudo pode ser fantástico :P, numa fatídica noite de Carnaval, ao som do melhor rock da linha encatraapisquei um menino do coro (mesmo menino do coro, daqueles que vão ao Natal dos hospitais e tudo, if you know what i mean) e o resto é história: primeiro vieram as picardias Norte/ Sul, FCP/ SLB (ainda hoje não vemos um jogo das duas equipas juntos senão dá molho), depois veio o Pisco (um beagle com um feitio tramado e teimoso que dói - dizem que os cães são o reflexo dos donos mas juuuro que não faço a mais pálida ideia de quem herdou o mau feitio - imaginem um grande e longo revirar de olhos), o Biscuit (yorkshire que herdamos da minha mãe, que já está muito velhinho e cego mas continua a andar por aí como se tivesse 3 meses - vai contra tudo portanto), 2 anos depois do casamento nasceu a Madalena ou a Nena como ela própria se auto intitula (uma menina de dois anos muito doce, meiga e intuitiva) e por último o Mateus (um bebé com 4 meses calminho, sorridente e rechonchudo).
Nós 6 formamos a pandilha Cabral e este cantinho será o palco das nossas histórias, desabafos e parvoíces. Nos breves períodos de lucidez poderão também contar com dicas sobre poupança (ah pois que isto de sustentar 6 bocas tem muito que se lhe diga) alimentação saudável, algumas receitas para miúdos e graúdos testadas e aprovadas por nós, informação sobre amamentação (ou não fosse eu, além de enfermeira, uma conselheira de aleitamento materno - CAM), parentalidade positiva e outras cenas mais que uma nurse pode partilhar convosco.
Espero que tenham a paciência e a resiliência necessárias para aturar as birras desta mãe e que venham connosco nesta mega aventura a que chamamos Vida.
Á Ana queria uma vez mais agradecer todo o carinho que colocou neste trabalhinho do demo que lhe encomendamos e dizer que adoramos o resultado final.
Quando escrevi a última publicação, que podem ler aqui, estava muito longe de imaginar o impacto que teria.
Como sempre, foi em tom de desabafo, de confissão, um pouco mais sério que o habitual dada a sensibilidade do tema, mas nunca pensei que tocasse tanto e tantas pessoas.
Primeiro de tudo quero agradecer àqueles que tiraram um bocadinho do seu precioso tempo para partilharem comigo as suas experiências e para demonstrarem ao mundo que crescer sem pai ou mãe (ou canário ou periquito, whatever), não é de todo sinónimo do fim do mundo nem significa que se percam os valores, o equilíbrio emocional (ainda há esperança para mim, portanto :P) e que se seja feliz! Muito feliz!!
Depois devo confessar que fiquei chocada, incrédula e triste com alguns desabafos que recebi. No meio de muitas histórias muito positivas (nem tudo pode ser mau) , verifiquei que ainda há sítios que não estendem o convite aos restantes elementos da família quando não é possível que o pai ou mãe ou periquito (acho que já perceberam a ideia) compareçam. Ou então, que não permitem que o pai e padrasto, por exemplo, possam ir os dois quando, para aquela família é isso que faz sentido. Que isto acontecesse nos anos 80 e que obrigasse uma mãe desesperada a ficar com a miúda (aka eu) em casa nesse dia, já é suficientemente mau, mas nos dias que correm?! Não consigo encontrar explicação... Dizia na publicação que ainda há muito a fazer nesta matéria, mas não fazia ideia que faltasse tanto...
Mas hoje voltei a este assunto, não para bater mais no ceguinho (embora, pelo aquilo que li nas histórias que me foram chegando, ele merece que lhe batam, e muito), mas porque tomei pela primeira vez, através da vossa partilha na primeira pessoa enquanto pais, consciência do que uma situação destas faz ao coração de uma mãe ou de um pai. Pela primeira vez não olhei para este assunto da perspetiva da filha que é obrigada a fazer um presente que não vai ser entregue (ou que se entregava à mãe), mas sim através dos olhos da mãe, da minha mãe.
Até agora via este assunto como sendo um marco na vida da criança e da formação da sua personalidade, sem que nunca antes me tenham ocorrido quais os efeitos que têm na vida dos cuidadores que ficam a amparar estes duros golpes. Falar convosco, que travam esta batalha em sofrimento silencioso para que os vossos filhos não se apercebam de como isso vos faz infelizes, fez-me ver como a minha mãe terá feito das tripas coração para que nunca sentisse como era difícil para si que eu passasse por isto no dia do pai. Ah e se ela soube esconder isto bem, muito bem mesmo! Ela fez-me sempre acreditar que o dia do pai era dos seus preferidos porque tínhamos desculpa para faltar, fazer coisas diferentes e eu nunca desconfiei do pavor que ela tinha que eu percebesse que nesse dia, ela estava num frangalho.
Embora suspeitasse que não deveria ser tarefa fácil, só depois de vos ouvir, de receber o vosso feedback à publicação, me foi possível perceber quão pequenino e apertado fica o coração de um pai ao ver o seu filho a ter de lidar com o preconceito, a solidão e a tristeza destes dias. Tudo isto para o proteger de mais essa preocupação, de mais esse problema.
E é por isso que não poderia deixar de vir aqui novamente, e já que não o posso fazer diretamente à minha mãe, permitam-me que o faça através de vós. Quero dizer-vos que estão a fazer o melhor que podem e sabem para proteger os vossos filhos (netos, sobrinhos, etc) deste tipo de provações. Vocês que todos os dias lutam por um futuro melhor para as vossas crias, fazem tanto, tanto que isso é suficiente para que elas nunca se apercebam em como vos é difícil aplacar a angústia que sentem ao ver os vossos filhotes passarem por isto num dia do pai (mãe, etc). A vocês que nutrem esse amor sem igual e que têm de ultrapassar estes obstáculos infernais, em nome dos vossos filhos, queria agradecer por demonstrarem ao mundo que mesmo nas maiores adversidades o que sobressai sempre é o cuidado, o carinho, a dedicação em detrimento da frustração, angústia e medo (que sei agora é o que vos vai na alma)!
Por tudo isso, aceitem o meu mais sincero e profundo OBRIGADA!
Porque amanhã é o dia do pai trago-vos um tema muito pessoal para mim.
Os dias comemorativos (dia do pai, dia da mãe, dos avós, etc) são prazenteiros para a maioria da população porque "encaixam nos padrões da normalidade", seja lá o que isso for.
Então e as excepções? Como será o dia do pai para quem, por qualquer que seja o motivo, não o tem presente nesse dia ou não tem pai de todo?
Tirem 2 minutinhos para pensar sobre o que sentirá uma criança que, além de ter de passar vários dias a elaborar um presente para alguém que não existe na sua vida ou que pura e simplesmente não estará lá (e nem venham com a velha máxima que "faz para o avô ou para o tio", porque a criança sabe bem para quem se destina...), ainda tem de fazer o frete de lanchar com os pais dos amiguinhos e alinhar na cantoria ou teatrinho. Conseguem imaginar?
Por motivos que não vêm agora para o caso, sempre fiz parte da minoria que não tinha o pai presente. Nem nesta nem noutras datas, mas no dia do pai a exposição da nossa situação familiar tornava a questão especialmente dolorosa porque normalmente vinha acompanhada das perguntinhas da treta de quem quer tirar nabos da púcara: "onde está o teu pai? Porque não veio? Oh que pena, agora a quem vais dar o teu presente?...".
Sei bem o que significa o dia do pai para quem não o tem por perto. Não pretendo de forma alguma fazer-me de coitadinha, porque as coisas são como são e há pouco que se possa fazer quando um pai, ou uma mãe por exemplo, se demitem do seu papel.
Tive uma infância muuuito feliz e uma mãe EXTRAORDINÁRIA, muito à frente do seu tempo e que foi de facto a MELHOR MÃE que poderia ter tido, mas lamento muito que estes dias comemorativos tenham ficado para sempre marcados como dias tristes porque não "cumpria os requisitos mínimos". Nunca me foi permitido que fizesse um presente adaptado à minha mãe (tinham de ser sempre as gravatas de cartolina ou os poemas para o pai), nem nunca permitiram que fosse a minha mãe a ir à escola nesse dia porque "poderia constranger os outros pais".
A minha mãe conseguiu "solucionar" parte do problema, deixei de ir à escola no dia do pai (tinha falta claro) mas tive de continuar a gramar com a pastilha das gravatas.
Acredito piamente que o que não nos mata, torna-nos mais fortes mas de facto não faz qualquer sentido que nos dias de hoje estas situações ainda ocorram (felizmente não tão acentuadas como há 30 anos atrás) mas há ainda um longo caminho pela frente.
Talvez fruto da evolução dos tempos os educadores/professores estão mais polidos nesta matéria, mais preparados e preocupados com o bem-estar das crianças para que não tenham que se sentir envergonhadas (porque por muito estúpido que vos possa parecer é um pouco isso que se sente, tem-se vergonha de se ser diferente dos outros) ou tristes num dia que deveria ser tudo menos isso.
Além dos casos em que os que progenitores não fazem parte da vida da criança, existem também situações em que os pais quer por motivos profissionais ou de saúde (ou outros), não conseguem estar presentes nas atividades promovidas pelas escolas, às 15 ou 16 horas (que é um horário muito complicado de gerir para a grande maioria dos pais), por isso creio que se se encarassem estes dias como sendo dias de TODA a família, nos quais pudessem participar todos os elementos do agregado familiar porque no fundo todos (mãe, pai, madrasta, padrasto, irmãos, avós, tios,etc) querem comemorar com a criança as datas importantes, talvez a minoria não se sentisse tão solitária e diferente.
Já sei, já sei... Não podemos proteger as crianças de tudo... Têm de aprender a conviver e enfrentar a sua realidade... Mas não será o nosso papel, enquanto adultos, tentar minimizar os estragos que vamos fazendo na vida dos nossos filhos com as nossas escolhas?
É que se há alguém que não tem porra de culpa nenhuma se o pai está a trabalhar, cá ou no estrangeiro, para sustentar a família ou se está simplesmente a borrifar para o seu filho é a criança, não acham?! Então porque tem de ser ela a saber lidar com a sua condição, de forma a que os outros não se sintam constrangidos e confrontados com as diferenças?
Celebremos junto das nossas crianças estas datas de acordo com as nossas realidades familiares sem lugar a vergonhas ou preconceitos. Façamos com que se sintam amadas no seio da sua singularidade, para que a aceitem inteiramente.
A todos os pais, padrastos, tios, avós, filhos, primos e netos desejo um feliz dia do Pai, junto de quem mais amam.
Faz hoje 4 meses que te recebemos nos braços pela primeira vez.
Depois de uma ronha de 41 semanas decidiste que estava mais que na hora de te abraçarmos, por isso quase nem tivemos tempo, depois de entregar a mana aos avós, de chegar ao hospital.
Foi tudo tão rápido, brutal e avassalador que não houve lugar para a epidural, para campos esterilizados, monitorização, ctgs, soros, nada... Não houve tempo para nada.
Foi como se tivesses nascido em casa, mas em cima de uma cama de hospital.
Assim que as minhas narinas te inalaram, toda a dor, todo o medo e todo sofrimento (que isto do parto a "seco" é muito bonito mas dói que se farta!) passaram.
Desde o primeiro minuto que és um bebé mais calmo, mais tranquilo e mais independente do que a mana. Ou então é a mãe que já está mais "crescida", mais segura de si e do seu instinto.
Num primeiro filho vamos "às escuras", não imaginamos as provações que nos esperam (privação de sono, amamentação, babyblues,etc). "Emprenhamos pelos ouvidos" e todos os "bitaites alheios" parecem pôr em causa tudo aquilo em que acreditamos e tudo aquilo que o bebé nos "diz".
Num segundo filho a coisa já não é assim. Aprendemos a confiar em nós, no nosso corpo e sobretudo já sabemos "ouvir" os nossos filhos.
Está claro que o grau de dificuldade aumentou porque já não somos só nós e o bebé, há um irmão mais velho que não podemos descurar. Que precisa muito dos pais porque também tem de aprender a dividir atenções, colo e mimo.
Mas até nisso somos uns sortudos porque a mana é simplesmente um doce e depois de uns dias a estranhar a tua presença (afinal só tem 2 anos e não percebia o que queria dizer isto de ter um irmão) passou a adorar-te e a querer participar nas tuas rotinas para que passasses a gostar tanto dela como ela gosta de ti.
Nestes quatro meses, sinto que o tempo voou, mas, desta vez, eu soube voar com ele.
Soube apreciar e saborear cada minuto, cada conquista, cada noite mal dormida como momento irrepetível. Pode parecer muito lamechas mas passa tudo tão rápido que temos de aproveitar até à última gota. De cada vez que te alimentas, de cada vez que tens sono mas só consegues adormecer no meu colo, de cada vez que te ris, de cada vez que te viras para ver as traquinices da mana, de cada vez que respiras, a mãe absorve tudo porque sabe que vais crescer num instante e depois vão ficar as saudades de te ter assim tão rechonchudo, coladinho a mim.
A magia da maternidade é esta, num momento estamos esgotadas, para logo a seguir, estarmos assoberbadas pelo amor que nutrimos pelos nossos filhos.
Como este assunto está na ordem do dia, infelizmente pelas piores razões, resolvi trazê-lo à baila.
Espero que esta publicação seja útil , esclarecedora e que fomente escolhas devidamente informadas, por isso antes de mais vamos aos factos:
O sarampo é uma das doenças virais mais contagiosas. Normalmente é considerada uma doença benigna mas em alguns casos pode ter contornos graves, chegando mesmo a ser fatal.
Transmite-se pela via aérea através de tosse e/ou espirros da pessoa infectada, sendo que a saliva e as secreções nasais são o veículo de transmissão deste vírus.
Inicialmente há febres altas, grande produção de catarro, tosse e conjuntivite. Passados uns dois dias aparecem os pontos brancos no interior da boca e depois as manchas vermelhas pelo rosto e corpo. Os sintomas podem manifestar-se entre 10 a 12 dias após o contágio e este período de incubação longo e sem sinais ou sintomas evidentes é responsável pela rápida propagação da doença.
A ÚNICA forma de prevenção da doença é a VACINAÇÃO. Atualmente consta do Plano Nacional de Vacinação com duas doses - aos 12 meses e aos 5 anos, mas nem sempre foi assim pois a vacinação organizada apenas começou em 1973. Por isso se não teve sarampo e se tem dúvidas ter levado a vacina, confirme junto do seu centro de saúde para tomar caso seja necessário.
O sarampo chegou a estar ERRADICADO em Portugal, mas em 2017 foram registados mais casos do que na última década, tendo sido um deles fatal, se bem se lembram. As pessoas vacinadas, podem também contrair o vírus mas de uma forma muito mais ligeira, menos contagiosa e sem complicações graves.
Estes surtos de sarampo existem na região europeia pela existência de comunidades não vacinadas contra o sarampo.
Ora, se a vacinação é a ÚNICA forma de prevenção e se esta doença pode ser FATAL, porque insistem algumas comunidades em não vacinar os filhos?!
Na década de 90 foi publicado um estudo polémico que relacionava a toma desta vacina com a existência de autismo. Mas se um dos autores foi impedido de voltar a exercer por ter levado a cabo esse estudo fraudulento, faccioso e sem fundamento científico e o outro, ter-se-á suicidado depois de levar da cabala que criou contra a vacinação em geral, não consigo conceber porque se utiliza este estudo como porta-estandarte deste movimento contra a vacinação.
Mesmo existindo milhares de outros estudos que refutam e contrariam a teoria de que a vacina do sarampo pode provocar autismo, ou ter outros efeitos colaterais, que tenham causa-efeito devidamente comprovados, existem ainda comunidades de pais que não vacinam os filhos e isso faz com que a doença, outrora ERRADICADA, volte a ser uma ameaça para a população.
Confesso que este assunto mexe muuuuito com o meu sistema nervoso, porque esta corrente, faz muitas vitimas. Primeiro, os próprios filhos que, não sendo imunizados porque os pais consideram que as vacinas podem criar problemas à sua saúde, correm o risco de contrair doenças consideradas benignas, ter complicações graves e às vezes fatais - que o diga aquela jovem de 17 anos que morreu em Portugal e as restantes 34 pessoas por toda a Europa no ano passado. Depois as pessoas que, por apresentarem reações alérgicas graves quando tomam vacinas, não as podem fazer sob risco de morte por reação anafilática (reação alérgica sistémica grave). E por último, as crianças que ainda não atingiram a idade de tomar a vacina e o seu reforço, ou seja, que ainda não têm 5 anos.
Este grupo felizmente pequeno de pessoas que não pode tomar vacinas por reacções alérgicas e as crianças até aos 5 anos, estavam protegidos até aparecer este movimento anti vacinas, porque como há cada vez mais pessoas não vacinadas o que acontece é que as doenças que já tinham desaparecido, voltaram a surgir no panorama e representam um problema grave de SAÚDE PÚBLICA! Vejam o surto que está a eclodir no Hospital de Santo António no Porto - a Direcção Geral de Saúde acaba de confirmar 32 casos!
É de uma IRRESPONSABILIDADE GIGANTESCA a não vacinação por opção! Não só se coloca em risco a restante população, que diga-se de passagem não tem culpa nenhuma das ideologias malucas desta vertente anti vacinação, como promove um retrocesso enorme na luta e desaparecimento de doenças infecto-contagiosas graves!
Devo acrescentar que na escolha da escola dos meus filhos pesou (além de muitas outras coisas, claro) o facto de para nela ingressar seja necessária a apresentação do boletim de vacinas devidamente atualizado e lamento que esta medida não seja OBRIGATÓRIA em todos os estabelecimentos de ensino públicos ou privados, qualquer que seja a faixa etária.
Por outro lado, não consigo perceber como é que o Governo Português, depois do que se passou no ano passado, ainda não tomou medidas efectivas que protejam a população. As vacinas que constam no Plano Nacional de Vacinação deveriam ser OBRIGATÓRIAS (com a devida salvaguarda das raras excepções que as impossibilitam como expliquei acima) e deveriam ser aplicadas sanções a quem não cumpra, porque não respeitar a saúde pública é CRIMINOSO! O livre arbítrio não pode justificar tudo, porque "a minha liberdade termina quando começa a do meu próximo"!
Há que reduzir o número de cidadãos portugueses não vacinados, para que quando apareça o vírus trazido do exterior (segundo li o paciente zero é de nacionalidade francesa), este não se propague como um rastilho de pólvora e seja posta em causa a SAÚDE PÚBLICA. E para isso há que tomar MEDIDAS URGENTES!
Quem tem filhos pequenos sabe bem quem manda lá em casa!
Nós pais estamos carecas de saber quem decide se vamos poder passar aquele fim de semana fora que está combinado há séculos ou comparecer àquele jantar que queremos muito ir.
Têm babysitter combinada e os bilhetes de cinema comprados?! Achavam mesmo que iam conseguir ter um programinha a dois?! Assim, sem mais nem menos?! Ahahahaha! Vê-se mesmo que são principiantes nestas andanças!
Por acaso pediram permissão à Sôdona Ite ou à Sôdona Óse?! Pediram?! Ah não pediram... E agora querem milagres!
Toda a gente sabe que até para se conseguir ir trabalhar ou cumprir com aquele prazo de entrega, tem de se pedir autorização às Sôdonas Ite e Óse! Com bastante antecedência, de preferência em papel azul, timbrado, carta registada com aviso de recepção e esperar, muitas vezes bemsentadinhosparanãocansar, que elas façam o obséquio de satisfazer os nossos desejos e nos deixem mandar um bocadinho na nossa própria casa.
Ah precisas de dormir? Precisas "só" de dormir? Isso pode ser que se arranje...Deixa lá ver como está a agenda das Sôdonas... Ah afinal talvez não vá ser possível... Talvez lá para o final do inverno... Talvez só depois do Félix e da Gisela (que, by the way, tem muito mais power que o Félix ou não fosse "gaija")...Mas se fosse a ti não me fiava muito nisso porque as diferenças de temperatura típicas da primavera também costumam dar pano para mangas...
E é isto meus senhores! Nem vale a pena perderem tempo a ficarem abespinhados com as Sôdonas porque elas não estão nem aí pra vocês! "Ah...Tínhamos prometido que íamos embora mesmo a tempo daquele aniversário?! Ops!! Afinal não deu..."
É o chamado "azarexbaby", a "aguentocaína", o "comeecala", o "ficasrefémemcasaenãobufas"!
"Prontos", já desabafei!! Já estou um cadito mai leve!
Acho que já perceberam que por cá ficamos de molho com o alto patrocínio da Sôdona Ite, Amigdalite. Febrões de rebentar a escala, umas amígdalas do tamanho de batatas que impedem a ingestão de alimentos, muito choro (mais ainda que o costume que estamos com 2 anos e meio...) e uma menina muito murchinha nos intervalos da medicação.
É claro que trocaria todos os compromissos pelo bem-estar dos meus filhos, porque nada me deixa mais à toa do que os ver doentes... Mas o raio das Sôdonas têm cá uma pontaria! "Raispartam" as bichezas!!
Seria de esperar que uma enfermeira lidasse melhor com isto, não era? Mas mãe é mãe, seja ela enfermeira, médica, advogada ou professora. Talvez cheguemos ao diagnóstico mais rápido do que a maioria (às vezes até temos diagnósticos mais complexos porque ligamos o complicómetro) mas de resto sofremos dos mesmos "males", todas sofremos de maeziteagudaquenãopodeverofilhotedoente.
Prescrição de tratamento para os tempos que se avizinham: muito colinho, muitos miminhos, muitos filmes no sofá (juro que o meu cérebro entra em greve se tiver de ver o Frozen ou os Smurfs mais alguma vez), enroscadinhos nas mantas e esperar que a PORRA da Sôdona Ite se digne a pôr-se na alheta!
Vá!! Xô daqui pra fora, Ite duma figa!! Vai-te encher de moscas!! (nota-se muito que ainda não tenho confiança com vocês para falar à moda da minha terra? :P)
Ah e tal, coitadinhas das crianças que carregam o mundo dentro das mochilas, que aquilo é muito peso para as costinhas, que assim até ficam atarrecados e não crescem.
Quer-se dizer, há toda uma preocupação com a formação e crescimento da coluna dos miúdos que, em idade escolar, levam mais que o seu próprio peso às costas mas ninguém quer saber do flagelo sherpista (chame-mos-lhe assim daqui para a frente, combinado?) da maternidade.
Ora vejamos, atualmente carrego no lombo, sempre que saio de casa, a minha mala (que tem toda a tralha inerente à condição feminina), a mochila da Madalena (2 ou 3 mudas de roupa, redutor de sanita que estamos no desfralde, toalhitas, stick de arnica para as cabeçadas, um ou dois babetes, água e um snack para as emergências), a mala do Mateus (2 ou 3 mudas de roupa, que está oficialmente aberta a época do cocó explosivo if you now what I mean, fraldas, toalhitas, creme muda fraldas, fralda de pano, uma manta e uma chucha suplente), o ovo com o Mateus lá dentro e a própria da Nena (porque agora, desde que o mano nasceu, com muita frequência faltam-lhe as forças nas perninhas por isso tem de ser a mamã a carregá-la também). Se formos jantar ou almoçar fora de casa, alanco também com o banco elevatório para a Nena, não vá o diabo teçê-las. E a cereja no topo do bolo é, no regresso a casa, depois de ter passado pelo super, ainda trazer mais uns dois saquinhos de asas com umas coisinhas poucas, que só faltavam ovos e gastei 30€ em coisa nenhuma.
Ufa! Estou cansada só de relatar, chiça! Agora imaginem lá carregar com isto tudo ao mesmo tempo que deusmalivre de fazer mais que uma viagem ao carro. Estou ou não ao nível do sherpa mais credenciado dos Himalaias?!
Não brinquem que isto não é assim tão linear, não é carregar por carregar. Se fosse assim estávamos nós bem mas há toda uma planificação e ciência envolvidas: o que se pega em primeiro lugar e o que se deixa para o fim, qual a alça que escorrega mais na roupa que tenho vestida, cuidadinho para não ficar em cima do cabelo porque ficascarecaquetelixas, de que lado está o vento, que peso que se coloca à esquerda e o que se coloca à direita - ficar marreca sim, mas não à banda! Que uma gaja, lá porque foi mãe não pode deixar de se cuidar! Ah e há ainda que ter as chaves do carro e de casa à mão de semear, que não há cá pão para malucos. Depois de se iniciarem as cargas e descargas não se podem interromper com pormenores do calibre "deixei a chaves na bolsa da mala, que está por baixo da mochila da Nena, do saco do Mateus e do ovo". Nã, nã nã. Há todo um guião que tem de ser escrupulosamente cumprido para que não dancemos o freaky-freaky a tentar recuperar o equilibrio depois da busca das chaves perdidas.
Estou tão versada nesta matéria que vou já acrescentar esta competência no meu perfil do linkedin, não vá ser considerada uma mais valia carregar com os doentes e o SNS às costas. Ah, espera... Isso já o ministro da saúde dá como garantido...
Já estou pra aqui a divagar mas estão a ver a ideia, não estão? Vai todo o mundo equipado para o Apocalipse aqui em cima do cabedal da "je".
Falei-vos aqui sobre a minha recuperação pós parto onde relacionei a minha perda de peso com a alimentação mas, pensando melhor, acho que posso ir ali encher o bandulho de palmiers do Careca que não se vai notar nadinha na balança!
Tenho a felicidade de ter nascido, crescido e vivido rodeada de Mulheres (reparem na maiúscula) de armas.
Mulheres que tiveram 12 filhos, que viram a vida "roubar-lhes" dois, que carregaram um dos filhos com queimaduras gravíssimas durante tantos quilómetros para chegar ao posto médico mais próximo, que quando lá chegaram e o pousaram, não conseguiram baixar os braços (apenas uma passagem de uma vida dedicada à casa, à lavoura e aos 12 filhos) e que aprenderam a ler (na altura as mulheres não iam à escola porque era um disparate gastar recursos e dinheiro na educação de uma mulher) ao ouvirem os filhos a estudarem na mesa da cozinha enquanto tratavam dos afazeres domésticos.
Mulheres que foram mães e pais, que passaram por pneumonias, apendicites, febres da carraça e toda uma a panóplia de doenças infantis da filha sozinhas, isto tudo antes dos 3 anos, numa cidade onde não tinham familiares próximos. Mulheres que viram os filhos crescerem, desabrocharem e que ficaram ainda mais sós quando eles partiram para outra cidade em busca de um futuro melhor.
Mulheres que viram os filhos e maridos partirem para a guerra, ficando a chorar baixinho e aguardando esperançosamente os seus regressos.
Mulheres que acordam de madrugada, dia após dia, sem folgas ou férias há anos, indo à luta e dando a outra face. Ah e isto tudo sempre com boa disposição e um sorriso na cara.
Mulheres que lutam diariamente para que as diferenças dos filhos não sejam um obstáculo ao seu desenvolvimento e à sua integração numa sociedade que não sabe conviver com as excepções.
No dia de hoje e tendo em conta o seu verdadeiro significado, quero dizer-vos que revejo cada uma dessas Mulheres que acima descrevi na Mulher que se vê obrigada a arrastar os filhos para as compras num final de dia, enquanto eles fazem uma birra descomunal, revejo-as na Mulher que todos os dias faz das "tripas coração" para atender a todas as exigências da gestão doméstica, laboral e familiar. Revejo-as na Mulher que lidera uma família monoparental. Revejo-as na Mulher que cuida do filho doente, à cabeceira de uma cama de hospital, muitas vezes com a certeza que não o trará de volta para casa.
Onde vão estas Mulheres buscar a força? A determinação? Não sei. Talvez à perninha extra do cromossoma...O que sei é que sempre que olho ao meu redor, revejo as Super Mulheres que me criaram, educaram e que muito contribuíram para que fosse quem sou hoje.
Este dia é comemorado com prendinhas simpáticas (flores, chocolates, massagens...) e estes mimos até calham bem, mas a data é muuuuuito mais que isso!
Por isso queria propor-vos um exercício: cada vez que virem uma mulher (que deve ser encarada como uma companheira de luta e não como uma inimiga - as mulheres conseguem ser muito mázinhas umas com as outras...) num momento menos bom (seja a lidar com uma birra do filho, seja porque está com a casa de pantanas, umas raízes de meio metro ou com a pele toda escavacada, qualquer que seja a dificuldade) em vez de a julgarem imediatamente ("o miúdo está a fazer aquilo porque é um mimado,", "isto está do avesso porque ela é uma desarrumada", "olha lá para aquele aspecto, é uma desleixada"...) limitem-se a dar-lhe um abraço apertado. Deixem que essa mulher desabafe e se sinta compreendida (mesmo que não a compreendam assim tão bem naquele momento). Ás vezes, tudo o que uma Mulher precisa é só de um momento de pausa e de um colinho para recuperar o fôlego e começar tudo de novo.
A todas as Mulheres desejo um dia muito feliz, hoje e SEMPRE!